Estudos em granja no Paraná apontam que cuidar do bem-estar das matrizes principalmente na fase final de gestação, ajuda a tornar os recém-nascidos mais resistentes e saudáveis. Especialista orienta sobre o melhor manejo a fim de evitar essas situações
O estresse é um dos problemas mais graves e comuns da sociedade atual. Além de comprometer a relação entre as pessoas, este mal, pode levar a complicações sérias de saúde, não somente na parte física, mas também psicológica. Na suinocultura não é diferente, um animal estressado pode ter desempenho comprometido, baixa produtividade, ser mais agressivo, afetando diretamente os resultados e ganhos de uma granja. Por isso é fundamental total atenção com o manejo dos animais.
O problema é tão importante que já virou tema de muitas pesquisas publicadas em renomados periódicos científicos no Brasil e no mundo. De acordo com o médico veterinário Adroaldo José Zanella, professor e especialista na área de bem-estar animal pela Universidade de São Paulo (USP) com atuação em diversos países, entre eles, Inglaterra, Alemanha, Noruega, Estados Unidos e Escócia, a questão do impacto do estresse na suinocultura é muito relevante.
Ele que coordena o grupo de pesquisa em bem-estar animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, tem dedicado boa parte do seu tempo nas últimas décadas ao assunto. Segundo o especialista, o tema é muito mais complexo do que parece, pois pode desencadear problemas que passam de geração para geração. “Uma das pesquisas de nossa equipe na USP e uma das áreas que trabalhamos é relacionada com fenótipos robustos, ou seja, como podemos ajudar recém-nascidos a iniciar bem a vida”, diz.
O que já se apurou é que uma fêmea suína no final da gestão se ela está exposta a um bom ambiente com interações positivas, o recém-nascido tem menos medo e começa a vida melhor. Além de estudos conduzidos no Brasil, o professor e a sua equipe também estudaram situações na Itália de recém-nascidos cuja mãe tinha claudicação, com dores agudas ou crônicas, e descobriu-se que isso foi péssimo ao neonato, pois eles nasceram mais agressivos. “Não temos dúvida alguma que faz todo o sentido cuidar bem da fêmea com muita atenção principalmente na fase final da gestação, momento onde os mecanismos associados com resiliência são desenvolvidos justamente com o estresse”, apontou o médico veterinário.
Consequência do estresse
Os suínos têm comportamento social muito complexo, por isso é importante mantê-los em grupos estáveis. Eles têm capacidade de estabelecer relações com até 100 outros animais reconhecendo os indivíduos e também as pessoas. Portanto, a primeira coisa que pode ser feita para reduzir o estresse é mantê-los em grupos que se conhecem, isso diminui disputas e brigas por hierarquia e podem causar machucados e lesões. Uma fonte causadora muito caracterizada é a qualidade do manejo, ou seja, um tratador agressivo imediatamente cria uma resposta negativa ao rebanho.
Estudos mais específicos no problema apontam que o mecanismo de estresse libera um hormônio que se chama cortisol, que além de suínos, também existe em humanos, equinos, bovinos, entre outras espécies. Esse hormônio é importante, pois organiza várias ações do dia a dia, gerando, por exemplo, energia extra quando necessário. Contudo, quando liberado de forma elevada, por período prolongado, resulta em vários efeitos maléficos. Isso pode comprometer o sistema imunológico deixando o animal mais propenso a doenças, reduzir o ganho de peso e pode ainda causar modificações muito severas até no próprio cérebro dos indivíduos.
Por isso, uma das características importantes em uma granja é a relação entre os tratadores e os animais. “É preciso que o manejo seja feito com calma, atividades como vacinação ou coleta de sêmen, precisam ser planejadas para ocorrer na maior tranquilidade possível e que no geral as interações entre todos, sejam positivas”, acrescentou Zanella.
Parceria nos estudos
No Brasil uma das granjas parceiras nesses estudos junto a USP é a TopGen, marca especializada em genética suína, com sede em Jaguariaíva/PR. Durante o período de análises na propriedade, avaliou-se a possibilidade de redução de estresse no plantel de várias formas. Uma delas, foi com foco no enriquecimento ambiental. Foi disponibilizado feno para as fêmeas suínas na fase final de gestação, possibilitando que elas pudessem manipular e “fuçar” o feno. Com o experimento, observou-se melhora na qualidade do sono delas e ainda proporcionou comportamento mais dócil dos leitões nascidos.
Também em parceria com a TopGen foram realizadas pesquisas que avaliaram o impacto do estresse nos machos. Segundo o professor, estudos recentes apontam que reprodutores mantidos em situação de estresse podem também afetar a prole, portanto, é importante o correto manejo e bem-estar deles.
Para comprovar essa tese, na granja paranaense, foi realizado um protocolo juntamente com os colaboradores com o objetivo de coçar e escovar os machos. “Suínos dão uma resposta tátil espetacular, pois eles contam com receptores opióides em várias partes do corpo que quando estimuladas, de forma manual, dão retorno de forma muito positiva”, destacou o especialista.
Este protocolo de escovar os machos realizado na TopGen, foi o primeiro no mundo implantado no manejo de uma granja de suínos. A iniciativa rendeu excelentes resultados em vários aspectos. Uma delas foi a descoberta de que leitões que nasceram dos animais mais calmos e que eram estimulados tatilmente com ambiente melhor, foram os que mais sobreviveram após o nascimento. “Também descobrimos que machos mais estressados tiveram maior temperatura no testículo e também problema de perfusão dele, ou seja, detectamos o primeiro estágio de degeneração testicular quando ele é estressado”, acrescentou o professor.
Animais expostos ao estresse de maneira contínua são acometidos de um grande desequilíbrio com consequências sérias à saúde, com isso, necessitam de uma quantidade maior de antibióticos. Ao demandarem mais remédios, cria-se uma situação que não é boa ao produtor, nem para o animal e muito menos para o mercado consumidor.
Para Zanella, a colaboração da TopGen com a USP para desenvolver os projetos foi fundamental nos resultados. A propriedade sempre abriu as portas, alojou alunos da instituição e cedeu animais para estudo, o que mostra o comprometimento da proprietária, Beate von Staa, com o conhecimento científico.
O que chamou a atenção dos estudiosos da universidade na propriedade é que o quadro de colaboradores na granja, em sua maioria, está na empresa há mais de 30 anos trabalhando no mesmo local, algo que na área de produção de suínos é raro de se encontrar. “Um indicativo de que as coisas estão indo bem é quando uma empresa consegue reter tão bem e por tanto tempo os colaboradores”, disse Zanella.
Para Beate, a adaptação dos animais ao ambiente é algo que sempre requer muita atenção e por isso é uma das grandes preocupações da equipe da TopGen. “Ter somente a melhor genética não vai resolver. Nos destacamos e nos esforçamos em nosso manejo, que é sempre focado na melhor adaptação dos animais ao ambiente com menos estresse possível”, finaliza a proprietária.
Sobre - A Topgen é uma marca brasileira, especializada em genética suína, com tradição de mais de três décadas. Localizada em Jaguariaíva, na região dos Campos Gerais do Paraná, a marca está consagrada no mercado, identificando a genética suína que se desenvolveu ao longo dos últimos anos com a missão de produzir e comercializar material genético suíno, entregando ao mercado maximização de valor com sustentabilidade. Promove melhoramento genético das raças Large White e Landrace, com uma linha materna batizada pelo nome de “Afrodite”, considerada por especialistas como a matriz mais completa do mercado. Mais em www.suinostopgen.com.br.