Por Lauriston Bertelli
Apesar de ser uma prática antiga no Brasil, a suplementação mineral de bovinos não atinge todo o rebanho. Pode ser surpresa para alguns, mas uma grande parcela de animais suplementados não recebe suplementos devidamente equilibrados para suprir as deficiências e desequilíbrios nutricionais encontrados em nossos sistemas de produção.
É comum a preocupação de se fornecer aos bovinos suplementos com foco em macrominerais como cálcio e fósforo e uma certa negligência quanto ao equilíbrio de microminerais. Por isso, neste artigo vamos abordar os minerais cobalto, iodo e selênio, sabidamente deficientes nas pastagens brasileiras.
Cobalto
O cobalto é um mineral fundamental neste contexto, já que compõe a molécula da vitamina B12, que, no caso dos ruminantes, é sintetizada pela microbiota do rúmen e posteriormente utilizada no metabolismo.
Esta vitamina é fundamental na síntese de glóbulos vermelhos do sangue, auxilia na produção celular, participa das demandas musculares e estimula (catalisa) a produção de glicose no fígado pelo desdobramento do ácido propiônico produzido no rúmen, além de regular o apetite dos animais.
Sabe-se que a melhor dosagem de glicose circulante melhora o desempenho dos animais tanto em produção de carne e leite como também no favorecimento de hormônios importantes na reprodução.
A deficiência de cobalto é uma das mais importantes para bovinos em condição de pastagem, em áreas mais específicas. Ela é caracterizada pela falta de apetite, perda de peso, pelos arrepiados, anemia e pode levar à morte.
Trabalhos realizados pelo nosso centro de pesquisa em parceria com FZEA-USP (Pirassununga) mostram que dosagens ajustadas de cobalto na suplementação de bovinos aumentaram significativamente o ganho de peso em animais recriados a pasto.
Iodo
O iodo, elemento também deficiente nas pastagens brasileiras, tem funções importantíssimas no metabolismo dos bovinos. O mineral tem como principal função a participação nos hormônios da tireoide, que regulam o metabolismo e interferem diretamente em toda a biologia dos bovinos.
É o único elemento exigido para uma só função primordial no organismo dos mamíferos, sendo necessário para a síntese dos hormônios tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) pela glândula tireoide. Esses hormônios regulam o metabolismo, produzindo energia para manter a termorregulação, reprodução, crescimento, circulação sanguínea e função muscular.
A deficiência do iodo implica na redução expressiva da produção animal, ou seja, reduz ganho de peso, diminui eficiência alimentar, inibe metabolismo hormonal e reflete na --eficiência reprodutiva nos rebanhos de cria. Portanto, deve estar em quantidade equilibrada na suplementação dos bovinos ou quaisquer outros mamíferos, inclusive nas dietas dos humanos.
Solos com baixos níveis de iodo e muito drenados, distância do mar e variação da capacidade da planta em absorver o mineral são alguns dos fatores que contribuem para a sua deficiência.
Selênio
O selênio, que também é deficiente na maioria das pastagens, fecha a essencialidade desses três elementos minerais. Ele atua em várias rotas biológicas ou metabólicas, refletindo na redução de radicais livres, no aumento em respostas imunológicas com a redução de doenças e/ou na melhora na resposta vacinal. Além disso, melhora a performance reprodutiva nos rebanhos de cria, reduz morte embrionária precoce e atua também na produção da forma ativa do hormônio da tireoide. Portanto, sua suplementação adequada é fator decisivo para melhorar a performance dos rebanhos.
Junto com o zinco e o cobre, o selênio está envolvido na formação e desenvolvimento dos órgãos de defesa na resposta imunitária e no combate ao estresse.
Entre os sinais clínicos da deficiência de selênio em ruminantes destacam-se a falta de vitalidade, crescimento retardado e morte súbita, por causa da necrose do miocárdio. Um sintoma característico da deficiência grave de selênio em bezerros é a chamada doença do músculo branco, que é uma mionecrose dos músculos das extremidades.
Tecnicamente, fica claro que, ao definir por um perfil de suplemento mineral para o rebanho, é preciso avaliar com cuidado o produto mais equilibrado para cada categoria animal.
O equilíbrio entre os macrominerais e microminerais é sem dúvida a chave para o melhor resultado técnico dos suplementos, sempre com atenção às características qualitativas das matérias primas.
As referências bibliográficas estão com autor: lauriston.bertelli@premix.com.br
* Msc Lauriston Bertelli Fernandes é zootecnista e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação da Premix.