O avanço da conectividade no campo tem trazido, ao longo dos anos, benefícios importantes para o agronegócio brasileiro. O que antes demandava o envolvimento de mais pessoas e de muito mais tempo, hoje é realizado não só com mais agilidade, mas também com mais eficiência. A gestão remota das atividades no campo, com salas de controle que funcionam quase como uma torre de operações de um aeroporto, monitorando o trabalho de diversos tipos de máquinas e caminhões, ajuda a tomar decisões de forma mais rápida e eficaz, o que consequentemente melhora a produtividade e os rendimentos do setor como um todo. Mas, para que tudo isso seja possível, os equipamentos instalados nas máquinas precisam de acesso à internet, e a realidade brasileira, quando se trata de conectividade, está longe de ser a ideal.
Hoje, 73% das propriedades rurais brasileiras ainda não estão conectadas à rede de internet, de acordo o Ministério da Agricultura e a associação ConectarAgro. Na prática, a conectividade permite que o equipamento no campo consiga mandar dados o mais rápido possível, de preferência em tempo real, para as salas de controle. Isso garante que as aplicações possam ser mantidas rodando e processando o tempo todo com informações atualizadas. No passado, quando não tínhamos nenhum tipo de cobertura de sinal, era comum utilizar um dispositivo de coleta de dados no equipamento, geralmente um pen drive, para armazenar as informações e descarregá-las depois. Infelizmente, essa alternativa ainda é comum em muitas localidades, o que torna o processo mais lento e suscetível a erros, afetando o tempo de reação das empresas na resolução de problemas.
Apesar das limitações que a infraestrutura do país ainda impõe na atividade agrícola, a tecnologia tem ajudado a garantir recordes de produtividade. Abaixo, elenco três pontos de tendência no setor que já têm mostrado avanços, e que podem ganhar mais impulso com investimentos em conectividade.
Uso de imagens e inteligência artificial
Muitas atividades, que antes eram executadas de forma puramente presencial, hoje são aceleradas pelo uso de imagens. Voos por drone, por exemplo, captam dados que ajudam a detectar doenças e pragas em diferentes culturas, apoiando a aplicação precisa de herbicidas e inseticidas. Nas áreas de floresta, já há robôs que são capazes de realizar a contagem de árvores de forma mais precisa e eficaz, diminuindo a margem de erro e gerando informações de melhor qualidade. Ainda nas plantações, imagens e sensores permitem o monitoramento do crescimento das plantas, utilizando esse acompanhamento como apoio para recomendações de aplicação de fertilizantes e necessidade de irrigação. Com ferramentas de automação e detecção também é possível percorrer áreas de floresta, detectar formigueiros e, depois, fazer o controle dos locais exatos para aplicação de formicidas.
Tecnologia de automação
O uso de automação plena ainda está longe de ser realidade, mas a tecnologia vem avançando bastante neste sentido. O piloto automático já dá mais autonomia para as máquinas, diminuindo o trabalho do operador, garantindo o alinhamento e minimizando a sobrepassagem durante operações como o plantio. No futuro veremos máquinas totalmente independentes da ação humana executando as operações. Isso não significa acabar com o emprego, mas sim aumentar a produção agrícola, já que as máquinas trabalham 24 horas por dia executando as operações tanto sob a luz do sol, como também à noite. Aumentar o investimento em automação significa tirar o esforço físico e transformar a ação do homem em esforço intelectual, para que ele trabalhe com decisões e deixe o trabalho pesado e monótono para as máquinas.
Agricultura mais sustentável
Como produzir gerando menor impacto para a natureza? A sustentabilidade tem sido também um desafio para a agricultura, e aqui a tecnologia tem um papel essencial. No momento em que o produtor utiliza uma ferramenta de automação para economizar na aplicação de um agroquímico, por exemplo, está reduzindo o impacto no meio ambiente. Utilizando menos produtos químicos, ele diminui a poluição dos lençóis freáticos e das fontes de água. Projetos inteligentes e tecnologias possibilitam minimizar esse impacto e assim contribuir para o meio ambiente. A agricultura deve saber usar bem as áreas que ela tem e recuperar as que não são utilizadas, sem invadir florestas nativas que permitem manter a condição natural do planeta de forma equilibrada. Assim, a missão da tecnologia passa também pela sustentabilidade.
Para avançar em todos esses pontos, no entanto, precisamos de uma infraestrutura de conectividade melhor, que possibilite que as empresas continuem investindo e levando para o produtor as melhores soluções. Faço uma analogia com as estradas: da mesma maneira que as nossas rodovias e modais de transporte ainda não são os ideais para a distribuição da produção, o tráfego de dados também precisa de investimentos para colocarmos o agronegócio brasileiro em um patamar mais elevado.
Alexandre Alencar, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da divisão de Agricultura da Hexagon