Levantamento realizado pela Abitrigo, por meio da plataforma Buzzmonitor, analisou publicações nas mídias digitais e seu teor
A percepção sobre o glúten entre os brasileiros e na mídia foi tema de destaque no painel "O Trigo e a Mídia", realizado na manhã do terceiro dia do Congresso Internacional da Indústria do Trigo, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em Foz do Iguaçu (PR). No evento, foi realizada a apresentação de um levantamento conduzido pela Buzzmonitor, que monitorou o termo “glúten” nas redes sociais e sites de informação para entender a abordagem do tema e identificar o predomínio de visões positivas ou negativas, além dos contextos em que o termo é discutido.
O gerente de Negócios da Buzzmonitor, Erick Garcia detalhou os resultados e destacou a importância de compreender a forma como o termo é abordado digitalmente. Ele pontuou que essa análise permite ao mercado ajustar suas estratégias de comunicação para promover a conscientização e se aproximar dos consumidores.
Segundo ele, o termo “glúten” tem gerado discussões diversas nas redes sociais, incluindo elogios e críticas. "Compreender a natureza dessas discussões é essencial para a indústria do trigo, pois as percepções públicas podem impactar diretamente a aceitação e as vendas de produtos à base de farinha de trigo”, analisou Garcia.
O levantamento, realizado de abril a outubro de 2024, revelou que o público mais engajado com o tema nas redes sociais é predominantemente feminino, representando 63,5% das interações, enquanto o público masculino corresponde a 36,5%. Em termos de sentimento das publicações, 46,6% demonstram uma perspectiva positiva sobre o glúten, enquanto 31,4% refletem uma visão negativa e 22% são neutras.
Esses dados reforçam a importância de uma comunicação eficaz por parte da indústria do trigo, levando informação correta para a sociedade, considerando o impacto direto que essas percepções podem ter sobre o mercado e os consumidores.
“Esse levantamento foi uma grata surpresa, pois estamos acostumados com informações mais negativas e percebemos que se trata de uma minoria barulhenta, que repercute bastante e acaba propagando informações erradas para a população. Sabemos que, excluindo os celíacos e demais pessoas com alguma questão médica, que representam menos de 3% da população, a maioria está apta a consumir normalmente os derivados de trigo”, destacou o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, Rogério Tondo.
Fome do quê?
Ao responder à pergunta “Quão saudável é comer trigo?”, o pesquisador e chefe da Unidade Genômica Funcional e Proteômica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal, Gilberto Igrejas destacou que o trigo é um excelente alimento, inclusive para pessoas sem condições médicas relacionadas ao glúten, como os celíacos, e alertou sobre os riscos da adoção de dietas que eliminam derivados do grão, muito promovidas nas mídias digitais.
“Muitas pessoas estão eliminando alimentos à base de trigo de suas dietas sem necessidade médica, o que pode resultar em deficiências nutricionais. A adoção desnecessária de uma dieta sem glúten pode ser prejudicial, já que o trigo oferece mais benefícios nutricionais do que sua exclusão. Ele é altamente nutritivo, fornecendo macronutrientes e micronutrientes que promovem uma boa saúde, sendo benéfico para a maioria das pessoas”, afirmou, ressaltando que abordar esses equívocos é crucial para prevenir riscos à saúde e ao bem-estar humano.
Em complemento, a fundadora e vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição em Saúde Mental, Vanderli Marchiori, pontuou que é de suma importância os consumidores terem em mente que a saúde é resultado de um conjunto de decisões, que não inclui a exclusão dos carboidratos.
“Os alimentos sem glúten e industrializados, como mostra uma recente pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresentam um teor maior de gordura, carboidratos livres, valor calórico e índice glicêmico, levantando um alerta sobre o que é atualmente vendido como ‘mais saudável’. O alimento verdadeiramente saudável é seguro e cheio de nutrientes”, frisou.
Do campo à mesa
Com o crescimento da população mundial, a demanda por grãos, especialmente o trigo, deve aumentar significativamente até 2030, atingindo 8,5 bilhões de toneladas, segundo o cientista sênior na International Flavors & Fragrances (IFF), Eduardo Pimentel, que moderou o painel “Tecnologias e o futuro do trigo na alimentação”.
“O trigo é essencial em alimentos processados, levando a um maior consumo nos países que o utilizam. Nesse contexto, o perfil do consumidor nos últimos anos tem refletido uma crescente preocupação com saúde e bem-estar, resultando em uma preferência por produtos saudáveis, como aqueles com rótulo limpo e grãos integrais. Além disso, há uma forte demanda por farinha orgânica e não-GMO, especialmente para panificação. Essa busca por inovação é particularmente evidente na Europa, EUA e Ásia, onde os consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos que atendem a essas novas expectativas”, detalhou Pimentel.
Essas transformações no mercado exigem, como analisou a gerente Global de Pesquisa de Trigo na GDM Seeds, Ivana Sabljic, tecnologias mais eficazes para o aprimoramento do cultivo, incluindo processos de teste e análises de dados relacionados ao desenvolvimento de cultivares.
A head de Marketing, P&D, Qualidade e Processos na Wickbold, Luciana Rangel do Carmo, por sua vez, pontuou que esse cenário também é visível no Brasil, onde a indústria de panificação se destaca como a maior da América Latina, caracterizada por seu tamanho substancial, potencial de crescimento e evolução nas preferências de consumo.
“No entanto, a jornada do consumo exige atenção redobrada a alguns pontos, como estratégias de venda, com os valores da marca em destaque, o desenvolvimento de produtos inovadores e o alinhamento à realidade do consumidor, superando as necessidades diárias”, pontuou.
Foco nas vendas
Com o tema “Os Canais de Vendas dos Derivados do Trigo”, mediado pelo superintendente geral da Abitrigo, Eduardo Assêncio, o último painel do Congresso contou com a participação do professor de pós-graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor do livro “A Incrível Ciência das Vendas”, Luiz Gaziri.
De acordo com Gaziri, para vender bem, independente do produto, é imprescindível incentivar o desenvolvimento do mercado, determinando metas e ranqueando de forma correta e eficiente.
No entanto, como complementou o sócio da J.Pontara Consultoria, Jean Pontara, isso só é possível na prática quando as estratégias de vendas são personalizáveis. “Não há uma estratégia única que atenda a todos os clientes do mercado. Cada segmento possui necessidades, comportamentos e desafios distintos”, afirmou.