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11 de dezembro de 2024 - 12:37h

A Folha Agrícola

Estomatite em bovinos: como ela impacta na produção de bezerras leiteiras?

As estomatites são processos inflamatórios, superficiais ou profundos, que frequentemente afetam a cavidade oral de bezerros, embora seu nome remete a uma enfermidade do estômago. Essas inflamações podem alcançar camadas subjacentes da boca, geralmente como consequência de lesões superficiais.

O maior acometimento ocorre em animais que estão em fase de aleitamento, podendo ser ocasionada por diferentes agentes, como vírus, bactérias e fungos, sendo então necessária a observação e a realização do exame da cavidade oral (face interna das bochechas, as gengivas, a língua e o palato) dos animais de forma regular.

Iremos abordar nesse texto os principais pontos relacionados às estomatites em bezerras leiteiras, entendendo melhor sobre os fatores e agentes causadores do problema e também suas formas de manifestação.

Além disso, vamos compreender melhor os principais impactos que as estomatites causam nos animais e como seu diagnóstico e tratamento podem ser realizados.

Conhecendo melhor sobre a estomatite bovina

As estomatites possuem uma ocorrência comum dentre as bezerras jovens, aquelas ainda em fase de aleitamento, devido ao sistema imunológico estar em desenvolvimento e a alta exposição a patógenos no ambiente.

Ela causa grandes prejuízos à produtividade, entretanto, esse problema é muitas vezes negligenciado ou subdiagnosticado, onde a principal justificativa possa ser as suas causas multifatoriais. As lesões provocadas pelas estomatites podem ser consideradas porta de entrada para outras infecções devido ao desequilíbrio das barreiras naturais de proteção.

Após a entrada do patógeno o organismo do animal ativa o sistema imunológico inato, resultando no recrutamento de neutrófilos para o local da infecção como primeira resposta.

Posteriormente vamos ter danos teciduais e vasodilatação que são provocados devido a liberação de citocinas como a IL-1 e TNF-α, o que eleva a permeabilidade dos vasos e permite que mais células de defesa cheguem, provocando sinais clínicos de dor no local.

O acúmulo de células de defesa somado com a liberação das enzimas pode levar a necrose do tecido afetado, provocando assim a formação de úlceras ou de placas necróticas.

Principais formas da estomatite

Sabemos então que a estomatite pode ser causada por vários agentes, fatores traumáticos e nutricionais, o que justifica suas variadas formas de manifestação.

1. Estomatite vesicular

É causada por um vírus e caracterizada pela formação de vesículas (bolhas) na mucosa oral, língua além de cascos e úbere. Contém cura espontânea, entretanto, é necessário a observação dos sinais clínicos para intervir no momento certo.

Seus principais sinais se assemelham com os sinais clínicos da febre aftosa, onde é observado febre alta, formação de vesículas nas mucosas orais, após o rompimento das vesículas progride á úlceras, sialorréia devido a irritação oral, anorexia por conta da dor e baixo desempenho em produção. Outros sinais físicos apresentados seriam áreas lesionadas em narinas, gengivas e palato duro.

Os animais contaminados eliminam vírus através de secreções e excreções, possibilitando a disseminação da enfermidade por fômites como mamadeiras, baldes ou sondas.

Outro ponto importante sobre a transmissão seria a contaminação de moscas hematófagas as quais podem transmitir o vírus ou então ser um reservatório o que gera um acréscimo da taxa de estomatite vesicular na propriedade.

As principais recomendações seriam a quarentena dos animais enfermos, controle de moscas, desinfecção de instalações e equipamentos, treinamento dos colaboradores e a avaliação rotineira da cavidade oral dos bezerros. Devido a sua cura ser espontânea o tratamento é realizado de forma paliativa com o objetivo de melhorar o bem estar do animal.

2. Estomatite necrótica

A estomatite necrótica nomeada também como difteria dos bezerros, é causada por uma bactéria anaeróbia gram-negativa, a Fusobacterium necrophorum. É uma doença com maior incidência em bezerros em aleitamento especificamente na idade de 60 a 90 dias de idade. A sua caracterização é por lesões necróticas que progridem para úlceras e abscessos.

Seus principais sinais clínicos estão correlacionados com a gravidade da doença como febre ocasionado dispneia e em casos mais fortes a tosse é persistente e também a dificuldade de deglutição podendo levar ao óbito por pneumonia aspirativa.

O tratamento é realizado com antibiótico de preferência das bases e tetraciclinas sulfonamidas. Em casos de abscessos deve ocorrer a drenagem e tratada de forma correta recomendada.

3. Estomatite papular e pseudovaríola

A estomatite papular é causada por vírus contendo baixa taxa de mortalidade entre os casos. É caracterizada por lesões pustulares e proliferativas localizadas em grande parte das incidências nos lábios, mucosa oral, língua, focinho e narinas e estão associadas com lesões vesiculares.

Na maioria dos casos, bezerros imunossuprimidos ou que já tiveram outras doenças como a diarreia são mais suscetíveis à enfermidade.

Em geral, a sua fase aguda acomete animais de duas a seis semanas de idade onde suas principais aparições vão ser lesões de coloração avermelhada mais escura formando úlceras com características de superfícies irregulares.

Seus principais sinais clínicos se baseiam em diarreias sanguinolentas, redução de movimentos ruminais podendo levar a atonia ruminal, baixa ingestão alimentar e febre.

Já a fase crônica da doença é acometida em animais na média de 13 meses de idade podendo apresentar maiores complicações como a evolução de lesões ulceradas na pele do tórax, do pescoço e óbito.

Estomatite papular na boca de um bezerro

Estomatite papular na boca de um bezerro. Fonte: Acervo Clínica de Ruminantes, EV-UFMG.

Outro ponto importante no caso da estomatite papular seria os animais enfermos terem contato direto com a mãe podendo infectar o úbere e gerar lesões que vão afetar a integridade do sistema imune e comprometer produção leiteira, principalmente devido a possibilidade de progredir para uma mastite.

4. Estomatite por BVD

A estomatite causada por Diarreia Viral Bovina (BVD) é ocasionada por um Pestivirus com altos níveis de morbidade gerando grandes perdas econômicas.

Devido ao seu caráter pantrópico o mesmo tem a capacidade de se replicar praticamente em qualquer tipo celular fazendo com que a estomatite por BVD se manifeste em diversas maneiras como doenças gastrointestinal, reprodutiva, respiratória e cardíaca podendo levar o animal a ser imunocomprometido.

O vírus pode ser eliminado de algumas formas como por exemplo pelo sangue, fezes, urina e por secreções oronasais podendo ocorrer contaminação horizontal para outros animais devido a ingestão e inalação das partículas virais.

Além disso, outro aspecto que deve ser considerado é a contaminação vertical, o que pode levar a vaca gestante de 42 a 125 dias ter um bezerro persistente infectado (PI). Desse modo, o PI na maioria das vezes não apresenta sinais clínicos claros, mas permite a manutenção do agente no rebanho perpetuando essa doença.

Os sinais clínicos e as consequências da doença variam conforme as propriedades genéticas dos 24 genótipos virais.

Na forma aguda da doença, é mais comum o acometimento subclínico ou leve, que pode servir como porta de entrada para outras doenças da cavidade oral, como a estomatite vesicular.

Nos animais PI, é comum o desenvolvimento oral da doença devido a lesões severas e agressivas na boca, laringe e esôfago. Essas lesões são classificadas como ulcerativas e hemorrágicas, podendo resultar em características necróticas.

Em casos mais graves, estas lesões podem se estender por todo o trato gastrointestinal. Sintomas como depressão, febre, leucopenia, diarreia, pneumonia e descargas oculonasais podem ser observados tanto na forma aguda quanto na crônica da doença.

O seu diagnóstico pode ser feito a partir de coletas de sangue, leite, tecidos gastrointestinais ou pele para realização de PCR.

Não existe tratamento para essa doença, entretanto, o manejo de vacinação com preventivos é de extrema importância.

Quais são os impactos nas bezerras?

Dentre as perdas causadas pela estomatite e que podem ser pontuadas na propriedade podemos citar:

  • Menor consumo de leite, água e/ou dieta sólida: devido à dificuldade que a estomatite causa para sucção e deglutição.
  • Menor ganho de peso: devido a redução da eficiência alimentar. Por isso, a estomatite prolongada e recorrente pode resultar em atraso no desenvolvimento.
  • Maior chance de problemas secundários: devido ao quadro de doença provocado pela estomatite, o estresse associado a dor e desconforto somado a baixa ingestão nutrientes pode comprometer o sistema imunológico das bezerras, tornando-as assim mais susceptíveis a ter outras doenças, como diarreia e doenças respiratórias o que potencializa ainda mais os prejuízos.

Como em uma reação em cascata, a estomatite no final vai provocar outros impactos como por exemplo o atraso na idade ao primeiro parto, devido a demora para atingir o peso e altura ideais para liberação para a reprodução, maior custo adicional com tratamentos e também o impacto na produtividade de leite futura.

Como diagnosticar a estomatite em bovinos?

O fato de ser considerada uma doença considerada negligenciada está muito relacionado com a falta do manejo individual de avaliação da cavidade oral dos animais e também devido às inúmeras causas, onde estão incluídos os agentes infecciosos, substâncias químicas e até mesmo erros com a limpeza e higienização dos utensílios de aleitamento, tudo isso torna difícil o diagnóstico ou faz com que tenhamos diagnósticos incompletos.

Entretanto, para diagnosticar é fundamental a realização do exame detalhado e rotineiro da cavidade oral da bezerra, onde nele é essencial que seja avaliado a textura da mucosa e a cor, e que a inspeção se estenda por toda a cavidade oral, incluído a parte interna das bochechas, palato mole e duro e as gengivas.

É essencial que seja realizado um diagnóstico diferencial para febre aftosa, visto que através dos sinais clínicos é impossível diferenciar. Por isso existe a possibilidade de diagnósticos laboratoriais específicos para que seja feita a confirmação.

Existe também a possibilidade de a partir da coleta de amostras, sejam elas fragmentos do tecido epitelial ou coleta de fluídos das lesões analisar através de isolamento viral e bacteriana, ELISA, rt-PCR, microscopia eletrônica e imunofluorescência quais os agentes etiológicos estão envolvidos no quadro.

Como é realizado o tratamento?

O tratamento para quadros de estomatite vai ser baseado em resolver a sintomatologia clínica que o animal apresente. A administração de medicamentos específicos como, antibióticos e anti-inflamatórios podem ser prescritos.

Melhorar o manejo de higiene do ambiente também é considerada uma forma de tratamento e aliado a isso, eliminar os patógenos oportunistas e acelerar a cicatrização das lesões são pontos chaves e que pode ser realizada a partir da utilização de soluções antissépticas que são consideradas de uso oral.

Entretanto, existem casos leves, onde o próprio tecido lesado começa a regenerar após a redução da carga infecciosa e da resposta inflamatória. Assim, o epitélio antes lesado inicia o processo de regeneração de maneira gradual.

Como forma de controle e prevenção, é fundamental que o animal acometido seja isolado, principalmente se a causa da estomatite for infecciosa. Esse isolamento é importante para que seja evitada a propagação nos demais animais.

A higiene do ambiente visando a redução da carga microbiana, aliada a desinfecção dos utensílios utilizados na alimentação devem passar por uma higienização bem rigorosa a fim de que esses utensílios sejam os responsáveis pela disseminação da doença.

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Fonte: Rehagro
Autor: Lucas Teixeira

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