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24 de dezembro de 2024 - 7:05h

A Folha Agrícola

Efeitos do estresse térmico no comportamento de multíparas no início de lactação

O estresse calórico causa muitos prejuízos para a atividade leiteira no Brasil. A exposição ao estresse calórico afeta negativamente a saúde, produtividade, comportamento e desempenho reprodutivo de vacas leiteiras em todos os estágios do ciclo lactacional.

Vacas em lactação expostas a esse estresse diminuem a produção de leite e sólidos, possuem o sistema imune comprometido, apresentam menor desempenho reprodutivo e a incidência de doenças pós-parto é maior.

A exposição ao estresse calórico durante o período seco não só afeta negativamente a produção de leite da vaca na lactação subsequente, mas também exerce efeitos negativos persistentes nas filhas dessas vacas durante toda a vida produtiva.

Nesse artigo iremos demonstrar e discutir sobre o efeito do estresse térmico no comportamento de vacas em lactação e também seus impactos na produtividade.

Além disso, vamos tratar sobre os sistemas de resfriamento dessas vacas, trazendo resultados importantes encontrados em galpões de túnel de vento.

Comportamento de vacas multíparas em estações quentes e frias

Pesquisadores da Universidade da Flórida em artigo publicado recentemente (Toledo et al. 2023) avaliaram o comportamento de vacas multíparas de alta produção em duas estações do ano: estação quente do hemisfério Norte (meses de Julho, Agosto e Setembro) e estação fria (Dezembro, Janeiro e Fevereiro).

Trinta e quatro vacas em lactação multíparas com potenciais genéticos similares foram utilizadas no estudo na estação quente (EQ, n= 19. Julho, Agosto e Setembro) e na estação fria (EF, n= 15, Dezembro, Janeiro e Fevereiro) logo após o parto (3 dias pós-parto) até 60 dias de lactação.

Em ambas as estações, as vacas foram alojadas em confinamento tipo Free-stall com camas de areia e presença de aspersores na linha de cocho com ventiladores.

Os ventiladores sobre as baias funcionam continuamente em temperaturas acima de 20°C e os aspersores da linha de cocho ligavam automaticamente por 1 min em intervalos de 5 min quando a temperatura ambiente passava de 21,1° C.

O comportamento das vacas (tempo comendo, ruminando e deitada) foram medidos por equipamentos de monitoramento automáticos tipo coleiras e pedômetros da Nedap.

Estudos mostraram a diminuição da produção de leite quando o ITH (Índice de Temperatura e Umidade) atinge 68 e em alguns estudos mostram diminuição até mesmo ITH de 64. A média de ITH na estação quente (EQ) foi de 78,2 e na estação fria (EF) foi de 54,4.

O ITH 78 corresponde aproximadamente a uma temperatura ao redor de 26°C e umidade relativa de 75%. Temperatura e umidade estas, próximas das verificadas no verão na maior parte do Brasil.

Quais foram os principais resultados encontrados?

  • A produção de leite corrigida para gordura nas primeiras 5 semanas de lactação foi 46,2 vs. 41,9 kg/d para vacas na EF e EQ, respectivamente. Diferença de 4,3 kg/d. 
  • A estação quente afetou todas as atividades de comportamento apesar das vacas terem acesso a resfriamento ativo o tempo todo. 
  • Vacas na EQ passaram menos tempo comendo (134 vs. 199 min/d) e tendem a ruminar menos (558 vs. 629 min/d) em comparação a vacas na EF (Figura 1), o que provavelmente está relacionado ao menor consumo de matéria seca e produtividade. 
  • Vacas na EQ tiveram redução do tempo deitada (717 vs. 814 min/d) e passaram mais tempo em pé comparado a EF (720 vs. 626 min/d). Os resultados estão de acordo com outros trabalhos que mostram que vacas em estresse térmico, buscando maior troca de calor, passam menos tempo deitadas e mais tempo em pé. 
Gráfico mostrando a diferença de tempo comendo e ruminando de vacas em estação quente e fria.

Tempo comendo (a) e ruminando (b) da semana 1 a 9 de lactação de vacas da raça holandês durante a estação quente (linha laranja) e estação fria (linha azul). Vacas foram mantidas em galpões tipo Free-stall com sombra e resfriadas com aspersores e ventiladores durante todo o estudo. Fonte: Toledo et. al (2023)

Os resultados desse estudo demonstraram que vacas, ainda que submetidas a resfriamento ativo de alta intensidade, ainda assim apresentaram produtividade, comportamento e consequentemente bem estar comprometido durante períodos de estresse calórico.

Pós-Graduação em Pecuária Leiteira

Estratégias para instalações efetivas no controle do estresse térmico

Instalações de confinamento com ventilação em túnel tem se tornado cada vez mais populares como ferramenta de mitigação dos efeitos do estresse calórico em gado leiteiro.

Barracões de ventilação em túnel utilizam potentes exaustores para a movimentação do ar horizontalmente no nível da vaca de um extremo ao outro do barracão.

Um estudo recente da Universidade da Flórida (Dikmen et al. 2020) teve como objetivo determinar se as instalações com ventilação em túnel são superiores às instalações com ventiladores e aspersores em relação a temperaturas retais de vacas durante o estresse calórico e na variação sazonal na produção de leite.

No primeiro estudo, as temperaturas retais (TR) de 1.097 vacas holandesas em lactação em seis galpões tipo Free-stall com ventiladores e aspersores foram comparadas com TR de 575 vacas holandesas em lactação em quatro galpões Free-stall com ventilação em túnel entre 14:00 e 16:00 h durante os meses de Junho a Agosto na Flórida.

As temperaturas retais foram mais baixas para vacas em galpões com ventilação em túnel que em galpões com aspersores e ventiladores quando os galpões com ventilação em túnel foram construídos originalmente, mas não quando os galpões com ventilação em túnel foram construídos a partir da adaptação de um galpão com aspersão e ventiladores.

Barracão do tipo túnel de vento

Imagem de um barracão do tipo túnel de vento. Fonte: Dairy Lane Systems

No segundo estudo, a produção média diária de leite de 8.470 vacas holandesas nos primeiros 90 dias de lactação foi comparada entre vacas alojadas em três galpões com aspersores e ventiladores e dois galpões com ventilação em túnel.

A produção de leite das vacas que pariram na estação fria (outubro a março) foi maior que das vacas que pariram na estação quente (abril a setembro). A redução sazonal na produção de leite foi menor para vacas em galpões com ventilação em túnel (redução de 3,5%) que para vacas em barracões com aspersores e ventiladores (redução de 5,8%).

Os autores concluíram que com esta diferença de produção, estimou-se que uma fazenda leiteira poderia investir até US$332 a mais por vaca em um barracão com ventilação em túnel que em barracões tipo Free-stall com aspersores e ventiladores.

Concluiu-se, neste estudo, que alojar vacas em galpões com ventilação em túnel nas condições subtropicais da Flórida pode reduzir o impacto do estresse térmico na regulação da temperatura corporal e na produção de leite.

Considerações finais

Algumas fazendas assistidas pelo Rehagro que utilizam sistemas de resfriamentos tradicionais mostram médias de produtividade de leite e índices reprodutivos semelhantes entre os partos ocorridos nos meses mais quentes e meses mais frios, embora não sejam dados experimentais.

Como esses números se comportam na sua fazenda ou na fazenda de seus clientes?

Importante que estudos semelhantes como este pelos pesquisadores da Flórida sejam conduzidos no Brasil para se determinar quais as melhores estratégias de manejo ambiental visando a diminuição dos efeitos deletérios do estresse térmico que resultem em maior produtividade e lucratividade da atividade leiteira.

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