Evento paralelo à Cúpula do BRICS reuniu empresários dos dois países para debater temas como transição energética, segurança alimentar, indústria farmacêutica e tecnologia e inovação
Empresários industriais do Brasil e da Índia se reuniram nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, para discutir possibilidades de parcerias em temas como transição energética, segurança alimentar, indústria farmacêutica, nova indústria e tecnologia e inovação. O Fórum Econômico Brasil-Índia, promovido pela ApexBrasil, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ocorre em paralelo à Cúpula do BRICS.
Na abertura do fórum, o presidente da CNI, Ricardo Alban, exaltou as similaridades existentes entre Brasil e Índia e as oportunidades de complementariedade entre as duas economias. “Nós temos muitas demandas em comum com relação à cana de açúcar, ao açúcar e ao etanol e podemos, juntos, ser protagonistas no fornecimento de combustível sustentável de aviação para o mundo. Eu entendo que, na evolução das relações bilaterais ou multilaterais, quem vai sair na frente é quem busca a complementariedade e não a competição entre si”, disse Alban.
Alban ressaltou ainda o papel da indústria no desenvolvimento do país e a importância da atuação conjunta dos setores público e privado. “Não tem como garantir desenvolvimento social sem crescimento econômico. E não tem crescimento econômico sustentável sem uma indústria forte. A indústria irradia para o setor de serviços, fortalece o setor primário, cria empregos de qualidade e impulsiona a produtividade. Cabe a nós protagonizarmos, junto com o setor público, a construção de um futuro mais produtivo, justo e integrado”, disse.
Para o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, somente com maior integração e cooperação será possível ampliar a presença brasileira no comércio global. “O Brasil possui um vasto mercado interno, um parque industrial resiliente e uma diplomacia econômica ativa. Ao setor produtivo, não faltam competência e capacidade; ao governo federal, não faltam disposição e compromisso com uma política externa que gere oportunidades, integração e justiça social”, disse.
O secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores, Laudemar Aguiar, explicou que o objetivo do governo com esse fórum é consolidar uma agenda bilateral mais estruturada e autônoma e que esteja à altura do peso político e econômico de Brasil e Índia.
“Em um cenário de mudanças geopolíticas e econômicas aceleradas, é essencial fortalecer os laços entre duas democracias vibrantes do Sul Global que compartilham aspirações por desenvolvimento com justiça social, maior protagonismo nas instâncias internacionais e inserção soberana nas cadeias globais de valor. A cooperação entre nossos países não é apenas estratégica, ela é necessária para a construção de uma ordem internacional mais equitativa, inclusiva e sustentável, destacou.
Ana Paula Repezza, diretora de negócios da ApexBrasil, destacou que nos últimos três anos a instituição organizou 17 fóruns bilaterais com países dos cinco continentes e esses encontros têm trazido resultados importantes para o comércio e para a imagem do Brasil. Considera, contudo, que o comércio entre Brasil e Índia pode crescer.
“Em um contexto mundial em que estamos aguardando novos aumentos tarifários, precisamos buscar intensificar as relações com Índia. O comércio bilateral ainda é tímido e compreende três grupos de commodities. Ainda que investimentos tenham crescido percentualmente, nominalmente estão aquém das possibilidades. Para nós, essa é uma oportunidade de iniciar uma série de discussões”, disse.
A partir desse Fórum, a CNI e a Federação das Câmaras de Comércio e Indústria Indianas (FICCI) vão liderar esforços para a criação do Conselho Empresarial Brasil-Índia. O colegiado terá a missão de promover o diálogo entre empresários e governos e formular propostas conjuntas que melhorem o ambiente de negócios e incentivem o comércio e os investimentos bilaterais.
Fluxo de comércio e parcerias com a Índia
A índia é a quinta maior economia do mundo, atrás de Estados Unidos, China, Alemanha e Japão. Em 2024, as exportações brasileiras para a Índia somaram US$ 5,3 bilhões, valor 52,7% maior do que o de 2019. No mesmo ano, as vendas da Índia para o Brasil alcançaram US$ 6,4 bilhões e foram 56,1% superiores às de 2019.
O principal produto exportado pelo Brasil para a Índia é o açúcar. Atualmente, o açúcar brasileiro enfrenta uma tarifa de 100% no mercado indiano devido à alta competitividade internacional do produto. O estoque de investimentos da Índia no Brasil chegou a US$ 2,9 bilhões em 2023, conforme o último dado disponível. O valor é 3,4% inferior ao de 2022.
Foram mapeadas 385 oportunidades para produtos brasileiros no mercado indiano nos setores de combustíveis minerais, máquinas e equipamentos de transporte, artigos manufaturados, produtos químicos, e óleos animais e vegetais.
A abrangência da parceria Brasil-Índia é evidente também no conjunto de 15 acordos e memorandos de entendimento assinados em janeiro de 2020, durante a visita oficial do presidente Lula à Índia. Esses documentos cobrem diversas áreas, refletindo a profundidade da colaboração bilateral.
Foto: Michelle Fioravanti / CNI