A agricultura regenerativa guiada por dados tem transformado o ecossistema de fazendas e diminuído a dependência de insumos químicos
A agricultura regenerativa é um conceito que tem se difundido cada vez mais pelo Brasil e prioriza a regeneração dos ecossistemas produtivos por meio da recuperação do solo, aumento da biodiversidade, captura de carbono e otimização do uso da água, sem comprometer a viabilidade econômica das propriedades.
Para isso, o manejo adequado do solo em busca de um equilíbrio entre os componentes químicos, físicos e biológicos aparece como um grande aliado dos produtores que buscam otimizar a produção, economizar recursos e promover a sustentabilidade.
O tema tem levantado debates entre governos, produtores e o setor privado, e a saúde do solo tem ganhado cada vez mais relevância, sendo considerada essencial para uma produção mais resiliente às mudanças climáticas, pragas e doenças, diminuindo a dependência de insumos externos e evitando a exaustão, além de gerar alimentos com maior densidade nutricional.
“É preciso superar o reducionismo da fertilidade baseada apenas em NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). A verdadeira regeneração depende do resgate das funções biológicas do solo, do estímulo à vida microbiana e da reconstrução da estrutura física e química degradadas ao longo de décadas”, pontua Daniel Mol, consultor especialista em compostagem e bioinsumos.
Estudos avançados em fazendas regenerativas têm mostrado melhoria na resiliência climática, aumento da atividade biológica, e retorno sobre o investimento no médio prazo.
“Sabemos que quando a gente coloca o componente biológico no solo, 1+1 não é igual a 2. Se trabalharmos da maneira correta, será mais do que 2. Por outro lado, se matarmos os microrganismos, danificamos a saúde do solo, e aí então 1+1 pode ser menos do que 2. O mundo inteiro está olhando para isso. A gente sempre observou física e química, e hoje a biologia do solo está sendo cada vez mais utilizada”, explicou o engenheiro agrônomo Plínio Augusto.
Daniel Mol e Plínio Augusto foram alguns dos especialistas presentes no The Soil Summit 2025, que reuniu nomes de referência da pesquisa e do setor produtivo. Estiveram em debate temas como o diagnóstico agronômico, novas análises biológicas do solo, potenciais usos da compostagem, certificações e experiências práticas no Brasil e no mundo.
Com os avanços recentes, ganha força a compreensão de que o solo pode ser a chave para superar muitos dos desafios da agricultura — desde a oferta de alimentos mais saudáveis até a construção de sistemas produtivos mais resilientes, capazes de enfrentar crises hídricas e reduzir a dependência de fertilizantes e pesticidas.
“Na climotologia, quanto maior o número de estações meteorológicas e de métricas avaliadas, mais precisa é a previsão do tempo. No solo, é a mesma coisa. Somente com um acúmulo massivo de dados, cruzados de forma sistemática, é que a gente consegue gerar recomendações melhores e mais regionalizadas”, explica o engenheiro agrônomo Carlos Eduardo Almeida, sócio co-fundador da The Soil Company, agtech londrinense que tem como proposta usar a tecnologia e a coleta de dados para aumentar a performance e saúde dos solos.
“Entramos agora em uma nova fase, de definir o que é, e o que não é agricultura regenerativa, estabelecer métricas, entender as práticas e seus efeitos, e torná-la auditável, sempre tendo o solo vivo como base. Grandes empresas de alimentos já confirmaram a meta de ter uma produção regenerativa, e o Brasil é o epicentro disso tudo. É o foco na saúde integral do solo e o mundo acordou para isso” – pontua Conrado Fioretto, engenheiro agrônomo, sócio e co-fundador da The Soil Company.