O período de transição das culturas de cobertura para a próxima safra é motivo de atenção para apicultores e meliponicultores em todo o Brasil. Enquanto as lavouras de inverno entram em plena floração, agricultores iniciam o processo de dessecação, muitas vezes utilizando herbicidas e até mesmo inseticidas de forma inadequada. Para quem cria abelhas, como o meliponicultor Fábio Júnior Calegari, da linha Barra do Santana em Verê, sudoeste do Paraná, esse é um momento de preocupação.
“Para nós, os apicultores, é um momento de bastante aflição. As abelhas estão em peso na lavoura, visitando as flores. Se a dessecação fosse feita em horários mais adequados, como no fim da tarde, já ajudaria muito. Pela manhã e até o meio-dia é quando há maior visitação, e qualquer aplicação nesse período pode causar grandes prejuízos”, alerta Calegari.
A importância das abelhas para a agricultura é inegável. Estima-se que 75% das culturas agrícolas dependam da polinização, e estudos recentes demonstram ganhos de produtividade expressivos.
“Na soja, por exemplo, quando há visitação de abelhas, a produtividade pode aumentar em até 21%”, destaca o produtor.
Apesar disso, casos de descuido ainda são comuns. Calegari relata ter sofrido prejuízos significativos devido ao uso de agrotóxicos inadequados próximos ao seu apiário:
“Um vizinho usou fipronil, que é proibido, durante a dessecação da cultura de inverno. Perdi uma quantidade considerável de abelhas, o que representou cerca de 15 mil reais de prejuízo.”
Segundo ele, medidas simples podem evitar danos irreparáveis, como respeitar os horários de menor atividade das abelhas, evitar a mistura de inseticidas em aplicações de herbicidas e utilizar apenas as dosagens recomendadas.
“As abelhas prestam um serviço gratuito e essencial para toda a agricultura. Em outros países, como Estados Unidos, China e Japão, os governos chegam a pagar para manter colmeias, porque não cuidaram no passado e hoje enfrentam escassez. Aqui, basta termos mais consciência”, reforça.
Além do impacto ambiental, a perda de abelhas tem reflexos diretos na economia rural. “É uma preocupação que deveria ser de todos. Se cada agricultor cuidar da deriva, do horário e evitar inseticidas em floradas, todos saem ganhando: os apicultores, os agricultores e a natureza”, conclui Calegari.
Além da produção, Fábio também se prepara academicamente: já concluiu cursos de formação pelo SENAR e pela Embrapa, e está finalizando o curso de tecnólogo em meliponicultura no Instituto Federal Catarinense.