Tecnologias digitais, sustentabilidade e formação qualificada estão atraindo uma nova geração para o agronegócio, que hoje figura entre os motores mais dinâmicos da economia brasileira. O campo deixou de ser apenas continuidade da atividade familiar e passou a ser visto como um ambiente fértil para empreender, trabalhar em startups, atuar em empresas de tecnologia e liderar projetos de bioeconomia. Para quem vem da sucessão, o apelo está em modernizar a fazenda e ganhar competitividade; para quem chega de fora, a combinação de propósito, impacto e oportunidades concretas de carreira abriu uma porta ampla.
O ponto de virada é a percepção de que o agro contemporâneo é um ecossistema de inovação. A digitalização levou inteligência a todas as etapas da cadeia, do planejamento à comercialização. Decisões passam a ser orientadas por dados, recursos são otimizados, produtividade e rentabilidade crescem com previsibilidade. Drones, agricultura de precisão, sensores de solo, monitoramento por satélite, softwares de gestão integrada e inteligência artificial aplicada ao clima e à sanidade animal já fazem parte do cotidiano. Além de elevar eficiência e reduzir custos, essas ferramentas ampliam a rastreabilidade e conectam o produtor às exigências dos mercados globais, o que, por si só, é um convite para talentos jovens que desejam aplicar ciência e tecnologia em escala real.
A capacitação, nesse contexto, deixa de ser diferencial e se transforma em condição de competitividade. O agronegócio moderno demanda repertório que vai além do domínio técnico da produção: gestão, finanças, tecnologia, sustentabilidade e comunicação compõem a base de quem quer escalar projetos e dialogar com parceiros e investidores. A boa notícia é que o acesso ao conhecimento se democratizou. Trilhas on-line, materiais de referência e programas formativos ofertados por diferentes atores do setor encurtam a distância entre intenção e resultado. Quando a formação é consistente, ideias ganham robustez, saem do papel e se convertem em negócios sustentáveis.
Outro vetor que explica a entrada de novos perfis é a emergência de carreiras híbridas. O campo passou a demandar profissionais capazes de transitar entre dados e operação, combinando visão sistêmica com execução disciplinada. Surgem funções como analista de dados agrícolas, gestor de inovação, especialista em sustentabilidade e líder de transformação digital. Essas posições reforçam equipes multidisciplinares e criam trajetórias de crescimento que dialogam com os valores da nova geração, impacto mensurável, aprendizagem contínua e significado no trabalho.
A estrutura de apoio também evoluiu. Cadeias produtivas mais integradas e parcerias entre empresas, produtores e ambiente de inovação aceleram a validação de soluções em contexto real. Plataformas digitais que reúnem conteúdo, capacitação e conexões de negócio ajudam a transformar interesse em competência e competência em resultado. Essa arquitetura reduz barreiras de entrada, amplia o acesso a tecnologia, crédito e seguros, e orienta a tomada de decisão com base em dados de qualidade, elevando o patamar de gestão das operações.
Há, contudo, um desafio central: a demanda por gente preparada cresce mais rápido do que a oferta. A resposta está em ampliar o volume e a qualidade da formação, aproximando quem ensina de quem produz e de quem financia. Quanto mais projetos inovadores emergem, mais o agro se torna atrativo para jovens; e quanto mais jovens capacitados chegam ao setor, mais robusta fica a base de inovação. É um círculo virtuoso que fortalece a competitividade, a sustentabilidade e a capacidade de o país responder a mercados exigentes.
Sem dúvida, a próxima década do agro brasileiro será marcada pelo protagonismo jovem. Hoje, cerca de 25% dos trabalhadores do campo têm menos de 30 anos, segundo o Censo Agropecuário, e esse percentual tende a crescer à medida que novas oportunidades se consolidam. O ecossistema de inovação acompanha esse movimento: o Brasil já abriga mais de 2,1 mil agtechs, um aumento superior a 40% em apenas cinco anos, refletindo a força do empreendedorismo jovem no setor.
Essa geração não apenas adota tecnologias, mas cria soluções, escala startups e redefine modelos de gestão. Ao combinar tecnologia, capacitação e governança colaborativa, os jovens tornam o agro mais competitivo, sustentável e conectado aos mercados globais. O futuro do setor, portanto, não será apenas digital e verde, será também jovem, diverso e cada vez mais inovador.

José Evaldo Gonçalo é CEO do Broto S.A. e tem mais de 30 anos de experiência em liderança estratégica nos setores público e privado. Doutor (PhD) em Automação e Elétrica pela USP e Engenheiro Agrônomo pela UFV.
Imagem Ilustrativa: FreePik