imagem freepik

Gislene Titon — Doutoranda em Geografia (linha Meio Ambiente); Nutricionista e Pedagoga, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional.
No Brasil, o uso de agrotóxicos não é apenas um problema ambiental ou de saúde pública — é uma estratégia de poder territorial. Como nutricionista e pesquisadora em Geografia, observo os efeitos dessa prática tanto nos corpos quanto nos biomas. A intensificação do uso de pesticidas químicos tem sido associada à expansão das monoculturas e da fronteira agrícola, especialmente no Cerrado e na Amazônia, onde comunidades inteiras vivem sob ameaça de contaminação e deslocamento.
O Dossiê Agro é Fogo (2023) denuncia como o fogo e os agrotóxicos são instrumentos de expulsão dos povos do campo, funcionando como mecanismos articulados de apropriação dos bens comuns. Além de devastar o ambiente, o modelo do agronegócio intoxica solos, corpos d’água e populações locais.
Do ponto de vista da saúde humana, estudos citados no quadro de referências sobre antioxidantes e agrotóxicos (2023) indicam que a exposição crônica a pesticidas está ligada ao aumento de doenças como câncer, Parkinson e malformações congênitas. Essa realidade escancara uma crise de soberania dos corpos, onde o direito à vida saudável é violado pela imposição de um modelo agroalimentar baseado no lucro.
Como doutoranda, enxergo essa questão sob a ótica da ecologia política e da justiça territorial: os agrotóxicos não afetam apenas o indivíduo isolado, mas todo um modo de vida. E como nutricionista, reafirmo que a alimentação só é saudável quando produzida de forma saudável, respeitando o meio ambiente e os trabalhadores do campo.
Diante disso, é urgente fortalecer políticas públicas de incentivo à agroecologia, à produção livre de venenos e ao controle social sobre os alimentos que chegam aos nossos pratos. Defender o alimento é defender o território — e o direito de existir com dignidade.