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22 de outubro de 2025 - 16:12h

A Folha Agrícola

Indústria brasileira do trigo reforça papel estratégico diante de desafios globais

Cadeia do grão discute reforma tributária, inovação e autossuficiência do Brasil na produção durante Congresso da Abitrigo, no Rio de Janeiro

Com recorde histórico de participantes, o Congresso Internacional da Indústria do Trigo de 2025 foi aberto nesta terça-feira (21), no Rio de Janeiro, reunindo especialistas, autoridades e representantes da cadeia moageira nacional e internacional. Em um momento de debates intensos sobre competitividade e sustentabilidade, o encontro coloca em pauta temas estratégicos como a reforma tributária, a inovação tecnológica e o avanço do Brasil rumo à autossuficiência na produção do grão. 

Na cerimônia de abertura, o presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa, destacou o fortalecimento do setor e a relevância das discussões propostas nesta 32ª edição. “A presença maciça do público mostra o engajamento da cadeia produtiva diante dos desafios globais e reforça a importância de compreender o mercado tanto no contexto nacional quanto internacional”, afirmou. 

O presidente do Conselho Deliberativo da entidade, Daniel Kümmel, celebrou o número de inscritos — 615 participantes — e ressaltou o papel da Abitrigo, que representa 80% da moagem nacional. “O desempenho de 13,2 milhões de toneladas moídas em 2024 demonstra a competência, a resiliência e o compromisso das mais de 150 empresas que garantem o abastecimento interno”, destacou.  

Representando o Ministério da Agricultura e Pecuária, o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos Júnior afirmou que o governo trabalha para apoiar a redução da dependência externa de trigo e incentivar políticas sustentáveis de produção. Já o deputado Luiz Carlos Hauly defendeu a implementação do IVA 5.0 como instrumento essencial para modernizar o sistema tributário e impulsionar o crescimento econômico. 

Reforma tributária deve reorganizar a cadeia do trigo 

Durante a palestra que abriu o segundo dia do evento, o diretor econômico da Destrava Brasil, Luiz Renato Hauly, e o diretor jurídico da empresa, Victor Hugo Rocha, alertaram para os impactos estruturais da reforma tributária prevista para 2026. Segundo os profissionais, o novo modelo fiscal exigirá planejamento e adaptação em toda a cadeia produtiva, com ênfase no papel dos moinhos como articuladores do processo.  

“A reforma não é apenas tributária, é estrutural. Ela alterará a dinâmica econômica e exigirá mais eficiência e organização em toda a cadeia”, frisou Hauly, 

Geopolítica e economia desafiam cadeia do trigo em cenário global instável 

O cientista político Gustavo Segré e a economista Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting, uniram-se para a palestra inaugural do Congresso, que apresentou uma análise dos impactos das mudanças geopolíticas e econômicas no setor. Segré pautou os desdobramentos do governo Donald Trump e suas implicações para a América Latina, apontando o realinhamento político e o enfraquecimento institucional como fatores de atenção para o Brasil. “Trump deve buscar retardar a expansão econômica da China, e a atenção deve se voltar para a reunião entre John Bessent e o vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng”, destacou, indicando que a política externa dos Estados Unidos poderá afetar diretamente as relações comerciais da América Latina. 

Já Zeina Latif reforçou que, apesar do ambiente global incerto, há espaço para otimismo moderado no país. Ela ressaltou a importância da gestão de riscos e da diversificação de mercados diante de pressões fiscais e cambiais. “A taxa de câmbio reflete incertezas internas e externas, e a redução do risco fiscal só virá com reformas estruturais que aumentem a flexibilidade do orçamento”, pontuou a economista, ao destacar também os desafios demográficos e o potencial de consumo ainda não explorado no Brasil.  

Eficiência, gestão e sustentabilidade impulsionam competitividade  

A competitividade no setor do trigo passa por uma transformação que exige mais eficiência na gestão, uso estratégico da tecnologia e compromisso com a sustentabilidade. Essa foi a principal reflexão do primeiro painel do Congresso, que teve como tema “A Competitividade do Negócio Trigo”. O debate foi moderado pelo conselheiro da Abitrigo, Marcelo Vosnika, e reuniu o CEO da J.Macêdo, Irineu Pedrollo, o vice-presidente da Falconi Consultores, André Paranhos, e o head de procurement Brasil na Kellanova, Glauco Ferreira. 

Abrindo o painel, Vosnika apresentou um panorama nacional da indústria moageira, composta por cerca de 150 moinhos, com maior concentração no Paraná e no Rio Grande do Sul. “Com faturamento direto de R$ 26 bilhões ao ano e aproximadamente 30 mil empregos diretos, o setor ainda movimenta uma extensa cadeia de serviços, insumos e logística”, afirmou.  

Para André Paranhos, a maturidade em gestão é essencial para enfrentar esse novo cenário. “Gestão, em essência, é resolver problemas e atingir metas. Para isso, é preciso alinhar cultura organizacional, estratégia comercial e preparação das lideranças”, explicou. Já Irineu Pedrollo defendeu uma gestão baseada em eficiência e estratégia comercial, enquanto Glauco Ferreira apontou o potencial do trigo brasileiro como referência global em produção sustentável.