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6 de novembro de 2025 - 11:35h

A Folha Agrícola

Entre desafios e oportunidades, o agro se reinventa diante da dificuldade de crédito

Por Ricardo Gaspar, economista especializado em finanças e análise de risco, com ênfase em mercado de capitais, e gerente financeiro da BRQ Brasilquímica

O agronegócio brasileiro, um dos pilares da economia nacional, atravessa um momento desafiador, devido às condições climáticas sempre imprevisíveis, endividamento de parcela dos produtores, crédito caro, custo dos insumos e a própria oscilação dos preços das comodities. Todos esses fatores contribuem para reduzir as margens, impactando diretamente a rentabilidade e o desempenho das culturas. 

De acordo com a Serasa Experian, a inadimplência entre produtores rurais atingiu 7,9% no primeiro trimestre de 2025 – aumento de 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre anterior e de 0,9 ponto percentual na comparação direta com o mesmo período de 2024. Apesar de ainda ser uma taxa controlada, o avanço liga um alerta importante. 

Afinal, a inadimplência elevada faz com o setor financeiro adote postura mais restritiva na concessão de crédito, além de aumentar as exigências e, consequentemente, as taxas de juros. Essa situação reduz o investimento em tecnologia e infraestrutura, como armazenagem, e pode comprometer a produtividade futura e até a competitividade do agro brasileiro a longo prazo. 

Ainda que o aumento da inadimplência traga preocupação, não se pode dizer que o agronegócio esteja em crise. O setor passa por um período de ajuste, marcado por desafios conjunturais, mas segue crescendo e se reinventando. A inadimplência, mais do que um problema isolado, é indicativo da necessidade de fortalecer a gestão de risco, investir em informação e aprimorar o relacionamento das instituições financeiras com os produtores. 

Dificuldades de todas as ordens, como financeiras e climáticas, impulsionam a inovação e a busca por soluções sustentáveis e tecnológicas. O momento exige cautela e gestão estratégica, mas também abre espaço para novas oportunidades, como as plataformas tecnológicas aplicadas ao agronegócio, que oferecem uma visão completa e dinâmica do tomador de crédito, com base em dados analisados em tempo real. Essa transformação digital tem sido decisiva para reduzir a exposição financeira e garantir o equilíbrio entre rentabilidade e segurança. 

De sua parte, as empresas que fornecem crédito rural e gestão financeira têm investido em inovação para minimizar riscos. A BRQ Brasilquímica (empresa brasileira com 30 anos de atuação no mercado, especializada na produção insumos para a agricultura, visando a nutrição de plantas) mantém índices de inadimplência bastante baixos graças à revisão constante de políticas de crédito e à adoção de ferramentas de inteligência artificial voltadas ao setor. 

Atualizamos cadastros com maior frequência e utilizamos novos modelos de garantias, além de análises que integram diversos dados, inclusive climáticos, históricos de produtividade, imagens de satélite e informações de mercado. Essa abordagem amplia a precisão na avaliação de risco e favorece a tomada de decisões mais assertivas na concessão de crédito. 

A integração entre gestão de risco e análise de crédito também tem se mostrado essencial para identificar tomadores de alto risco, definir limites adequados e otimizar a alocação de capital, práticas que se refletem diretamente na saúde financeira e na eficiência operacional da empresa. 

Vale lembrar que, quando falamos em concessão de crédito, o desafio não está em negar o financiamento, mas em encontrar formas responsáveis e sustentáveis de viabilizar negócios. O agro brasileiro continua resiliente e, com planejamento e inovação, segue contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento econômico do país.