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27 de agosto de 2025 - 13:32h

A Folha Agrícola

Risco ecológico e qualidade do solo como estratégias para avaliação da recuperação de solos degradados

A modernização, impulsionada pelo avanço das novas tecnologias, tem desempenhado um papel fundamental no atendimento às crescentes demandas globais por alimentos, produtos industriais e inovações tecnológicas. Embora contribua  diretamente para o crescimento econômico mundial, também impõe desafios significativos relacionados à geração e ao gerenciamento de resíduos de produção. Um exemplo expressivo são os rejeitos provenientes da mineração de ferro, que quando mal manejados, podem contaminar o solo e os recursos hídricos, afetando a biodiversidade local, os serviços ecossistêmicos e a produtividade agropecuária das regiões adjacentes, além de comprometer o bem-estar e a saúde das comunidades.

Vários impactos, diretos e indiretos podem ser gerados pelas atividades de mineração. Dentre os impactos,  destaca-se a alteração das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo. Essa modificação compromete diretamente a saúde do solo, dificultando sua recuperação ecológica e reduzindo sua aptidão para o uso agrícola. Como consequência, as áreas degradadas tornam-se menos produtivas e ambientalmente insustentáveis para atividades agropecuárias, afetando a economia e a subsistência dos produtores. Diante desse cenário, torna-se indispensável a adoção de estratégias eficazes de mitigação e reabilitação, alinhadas às particularidades de cada área impactada.

Nesse contexto, a resiliência do solo emerge como um elemento essencial, tanto para viabilizar a continuidade das atividades mineradoras e industriais quanto para assegurar a sustentabilidade da produção agrícola. Uma alternativa promissora para reverter esse quadro é o investimento em pesquisas que fomentem a recuperação ecológica e o restabelecimento da produtividade agrícola, com foco na adoção de práticas de manejo sustentável. Entre essas práticas, destacam-se as ações de revegetação, o planejamento racional do uso do solo e de insumos agrícolas e a implementação de técnicas que impulsionem a produção, assegurando a oferta de alimentos de forma eficiente e ambientalmente segura.

Diante desse cenário, a Avaliação de Risco Ecológico (ARE) configura-se como uma ferramenta fundamental para compreender os impactos da contaminação em áreas degradadas. A ARE utiliza indicadores físicos, químicos e biológicos do solo para estimar sua qualidade ambiental, proporcionando uma análise robusta das alterações nas funções ecossistêmicas. Com base nos resultados obtidos, é possível elaborar estratégias de mitigatórias alinhadas às condições específicas de cada área impactada. Além de estimar os riscos ambientais, a  avaliação integrada da toxicidade dos rejeitos permite também avaliar o potencial de recuperação ecológica e a viabilidade do uso agrícola dessas áreas.

Contudo, embora a ARE seja eficaz na identificação de riscos ecológicos, sua aplicação no contexto agrícola requer a incorporação de indicadores mais específicos, diretamente relacionados  à sustentabilidade produtiva do solo. É fundamental que essa avaliação inclua parâmetros que reflitam  a capacidade do solo em sustentar a atividade agrícola, como  fertilidade, atividade biológica, estoque de carbono e a estrutura física, aspectos essenciais para o sucesso das lavouras.

É nesse contexto que o Soil Management Assessment Framework (SMAF) se destaca como uma ferramenta estratégica para ser utilizada na avaliação de áreas degradadas. O SMAF interpreta indicadores específicos do solo por meio de curvas de pontuação não lineares, gerando um Índice de Qualidade do Solo (SQI) que permite avaliar de forma integrada as condições físicas, químicas e biológicas, além de orientar as práticas de manejo mais eficiente, sustentáveis e produtivas. Por ser de fácil interpretação e ajustado conforme a aptdão do uso da terra, o SMAF permite avaliar como diferentes práticas de manejo influenciam funções essenciais do solo, como a ciclagem de nutrientes, o estoque de carbono, o suporte ao crescimento radicular e a produtividade vegetal. O que auxilia na escolha de estratégias mais assertivas para minimizar os impactos proporcionados pelo uso, além de favorecer a resiliência dos ambientes produtivos as mudanças climáticas, a maior conservação da biodiversidade e a garantia de segurança alimentar.

Deste modo, em áreas que sofreram algum degradação ambiental, o SMAF se mostra uma ferramenta complementar à ARE, proporcionando uma análise mais detalhada e direcionada das limitações do solo para o uso agrícola. Problemas recorrentes, como baixa fertilidade, degradação estrutural, compactação e susceptibilidade à erosão, podem ser diagnosticados com maior precisão. Além de quantificar os riscos, o uso integrado dessas ferramentas permite avaliar o potencial de recuperação e indicar práticas de manejo adequadas, favorecendo a utilização segura e produtiva desses solos.

Assim, a integração entre a ARE e o SMAF promove uma abordagem mais holística e cientificamente embasada, capaz de aliar segurança ambiental à sustentabilidade produtiva. Essa sinergia contribui diretamente para a formulação de políticas públicas mais eficazes e para o desenvolvimento de planos de reabilitação ambiental adaptados às condições específicas das áreas impactadas. Além disso, favorece o reestabelecimento da capacidade produtiva, a geração de renda e o fortalecimento da economia local, ao mesmo tempo em que preserva os serviços ecossistêmicos e a funcionalidade do solo. Por fim, reforça-se a importância do monitoramento contínuo, da gestão de riscos e da implementação de estratégias sustentáveis e de políticas públicas comprometidas com a recuperação e a valorização do solo como recurso essencial à resiliência ambiental e ao desenvolvimento socioeconômico.

Tamires Rodrigues dos Reisab, Márcio R. Nunesb, Aline Oliveira Silvaa, Marco Aurélio Carbone Carneiroa

aDepartamento de Ciência do Solo, Universidade Federal de Lavras (UFLA), 37200-900, Lavras, MG, Brasil.

bSoil, Water & Ecosystem Sciences Department, University of Florida (UF), Gainesville, FL, United States of America