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5 de novembro de 2025 - 14:00h

A Folha Agrícola

Produtor deve ficar atento à documentação de perdas para negociar prorrogação de financiamentos rurais

As chuvas irregulares, o calor excessivo e outros eventos climáticos extremos voltaram a impactar lavouras em várias regiões do país, trazendo prejuízos significativos à produção agrícola. 

No Paraná, nas últimas horas rajadas superaram 100 km/h e pedras de granizo de 100 gramas afetaram propriedades rurais em várias regiões do Estado. Lavouras foram danificadas, como também maquinários e 12 mil quilômetros de estradas rurais estão em condições precárias, segundo a Faep – Federação da Agricultura do Estado do Paraná.

As lavouras de soja estavam atrasadas com o clima instável, e os produtores terão agora que arcar com o replantio, já que viu lavouras arrasadas. 

O produtor rural Dirceu Machado, que tem uma propriedade de 80 alqueires no distrito de Guaravera, na cidade de Londrina, no norte do Paraná, viu a sua plantação perdida após a chuva de granizo. O prejuízo estimado é de R$ 500 mil reais.

“Eu perdi 100% da plantação da soja, prejuízo grande. Vamos ter que replantar, corrigir erosão, qualidade da terra com adubos e agrotóxicos para eliminar qualquer problema e termos mais condições de uma boa safra”, destaca o produtor.

Os volumes persistentes de chuva atrasaram também a colheita de trigo e ameaçaram a qualidade do cereal, com registro de queda nos preços ao produtor de cerca de 0,95% em uma semana e prejuízo médio estimado em 13,8% frente aos custos de produção. E devem ainda causar impacto na safrinha de milho, que vai ter a semeadura comprometida.

Diante desse cenário, cresce a preocupação dos produtores rurais com a capacidade de honrar compromissos financeiros assumidos antes das intempéries.

Em situações como essa, especialistas lembram que é possível negociar junto às instituições financeiras a prorrogação dos vencimentos de financiamentos rurais — desde que o produtor comprove, de forma adequada, a extensão dos danos sofridos. 

A legislação e as normas do Conselho Monetário Nacional (CMN) permitem que bancos e cooperativas avaliem pedidos de prorrogação conforme a nova capacidade de pagamento do produtor, desde que as perdas sejam comprovadas por laudos técnicos, registros de campo e outros documentos oficiais. Por isso, é fundamental que o agricultor mantenha um controle detalhado das ocorrências climáticas e dos impactos sobre a produtividade, reunindo notas fiscais, fotografias e relatórios de assistência técnica que evidenciem o prejuízo.

Segundo o advogado Raphael Condado, “a prorrogação é um direito do produtor rural, desde que ele comprove de forma técnica e consistente que as perdas inviabilizaram o cumprimento dos prazos originais. O banco precisa de segurança jurídica para aprovar o pedido, e isso só ocorre com documentação sólida”. Ele reforça que a organização das provas deve começar imediatamente após o evento climático: “O produtor deve registrar as ocorrências, buscar laudos de engenheiros agrônomos, boletins meteorológicos e manter contato formal com a instituição financeira. Quanto mais rápido e bem documentado o pedido, maior a chance de sucesso na renegociação.”

Muitos produtores acabam enfrentando dificuldades justamente por não formalizarem adequadamente as perdas. “É comum que o agricultor tente negociar de forma verbal ou informal, o que fragiliza o pedido. O ideal é apresentar um dossiê técnico, com dados objetivos e laudos assinados, mostrando que as intempéries afetaram diretamente a capacidade de produção e, consequentemente, de pagamento.” 

O cuidado com a formalização é o que pode fazer a diferença entre garantir um novo fôlego financeiro ou enfrentar restrições de crédito em safras futuras.

Foto: FreePik