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17 de novembro de 2025 - 15:33h

A Folha Agrícola

Na COP30: soja responsável RTRS impulsiona a mitigação climática

Evento realizado na AgriZone da Embrapa apresentou resultados ambientais e oportunidades de mercado que estão redesenhando o papel da soja nessa agenda global

O painel “Soluções da RTRS para Mitigar as Mudanças Climáticas”, realizado no dia 13 de novembro durante a COP 30, em Belém (PA), reuniu na AgriZone, espaço da Embrapa, pesquisadores, representantes do setor produtivo, especialistas em sustentabilidade e instituições financeiras para debater caminhos estratégicos para evoluir nessa agenda.

Organizado pela Mesa Global da Soja Responsável (Round Table on Responsible Soy – RTRS), o encontro destacou o papel dos padrões da certificação RTRS, os avanços da agricultura regenerativa, a medição de carbono, rastreabilidade, incentivos econômicos e resultados ambientais obtidos em propriedades certificadas.

O papel da soja certificada na mitigação da mudança climática

A abertura do painel foi conduzida pela diretora-executiva da RTRS, Marina Muscolo, que destacou como o padrão da organização oferece soluções práticas para enfrentar as mudanças climáticas. Com uma expertise de mais de 20 anos no agronegócio, Marina ressaltou a atuação mundial da RTRS como mesa-redonda multissetorial.

A associação, fundada em 2006 e sediada na Suíça, reúne produtores, indústria, traders e instituições financeiras em um espaço de diálogo e cooperação, com objetivo de promover a produção, comércio e uso da soja responsável. “Ano a ano a RTRS vem evoluindo como provedora de soluções, integrando padrões, plataforma digital e ferramentas de cálculo de impacto”, compartilhou.

Durante a apresentação, Marina também apresentou os principais elementos dos padrões RTRS, que certificam propriedades agrícolas e a cadeia de custódia, abrangendo soja e milho.

O sistema inclui 108 indicadores distribuídos em 5 pilares: cumprimento da legislação e boas práticas de negócios; condições de trabalho responsáveis; relações responsáveis com a comunidade; responsabilidade ambiental e boas práticas agrícolas, com critérios como desmatamento zero desde 2009 e conversão zero desde 2016. “No Brasil e na Argentina já há evidências de impacto em fazendas certificadas como melhoria do solo e restauração de vegetação nativa”, declarou.

No total, a RTRS reúne mais de 220 membros em mais de 30 países, conta com 54 mil agricultores certificados e registrou a certificação de 6,8 milhões de toneladas de soja no último ano.

Um novo padrão de agricultura regenerativa a partir do projeto piloto

A consultora em Agricultura Regenerativa e Carbono da RTRS, Helen Lazarri, apresentou o projeto piloto de agricultura regenerativa do RTRS, explicando que a iniciativa busca avaliar práticas que vão além da redução de impactos, promovendo restauração ativa do solo e da biodiversidade.

Segundo ela, o projeto piloto testa indicadores de qualidade do solo, aumento de carbono, diversidade vegetal e redução de insumos sintéticos, garantindo que os resultados sejam cientificamente validados. Para Helen, esse movimento amplia o potencial de contribuição da agricultura para a mitigação climática.

“O objetivo é transformar os aprendizados do projeto piloto em um novo padrão de agricultura regenerativa dentro da RTRS, oferecendo ferramentas mais completas aos produtores. Essa evolução responde à demanda global por abordagens que combinem produtividade, resiliência e benefícios ambientais de longo prazo”, enfatizou.

De acordo com Helen, a construção colaborativa do padrão garante credibilidade e aplicabilidade prática ao modelo.

Boas práticas agrícolas fortalecem a resiliência produtiva

Conforme explicou o pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira, as práticas agrícolas avaliadas pela RTRS demonstraram impactos mensuráveis na saúde do solo e no acúmulo de carbono.

Segundo ele, sistemas como plantio direto, rotação diversificada e o uso de braquiária contribuíram para aumentar a matéria orgânica, reduzir emissões e fortalecer a resiliência produtiva. “A adoção dessas práticas mostra que ciência e sustentabilidade caminham juntas para responder às mudanças climáticas”, frisou.

O especialista lembrou que estudos conduzidos pela Embrapa confirmaram os efeitos positivos observados nas fazendas certificadas visitadas no Brasil e na Argentina. Segundo ele, a restauração de vegetação nativa, a proteção de áreas sensíveis e o controle rigoroso do uso de insumos revelaram benefícios ambientais significativos. Além disso, Nogueira reforçou que o monitoramento contínuo é fundamental para garantir avanços e orientar novas decisões baseadas em evidências.

O resultado da responsabilidade ambiental e competitividade

Durante a mesa-redonda, a head de Sustentabilidade da Amaggi, Fabiana Reguero, ressaltou que mais de um bilhão de toneladas de soja certificada RTRS produzida pela Amaggi são resultados diretos de uma estratégia que integra responsabilidade ambiental e competitividade.

De acordo com ela, a adoção dos padrões voluntários promoveu melhorias estruturais nas fazendas, garantindo conformidade legal, proteção de áreas de vegetação nativa e relações mais sólidas com comunidades locais. “O modelo incentiva avanços contínuos na gestão do solo e no uso de biológicos”, afirmou.

A executiva destacou ainda que a certificação trouxe previsibilidade e reconhecimento internacional aos produtores, ampliando o acesso a mercados e fortalecendo a confiança junto a compradores globais. “A transparência gerada pelos padrões RTRS contribui para valorizar o trabalho do agricultor e demonstrar, de forma rastreável e validada, o impacto positivo da produção responsável no clima”, realçou.

Os avanços em inteligência de dados e sensoriamento remoto

O coordenador de Desenvolvimento de Negócios de Carbono da Bayer, Mateus Rosado, explicou que a medição robusta das emissões agrícolas depende de metodologias científicas padronizadas e de tecnologias que permitam monitorar o solo, a vegetação e o uso de insumos com alta precisão.

Na sua leitura, os avanços recentes em inteligência de dados e sensoriamento remoto possibilitaram avaliar estoques de carbono com maior precisão, fortalecendo a confiança em programas de redução de emissões. Para ele, o padrão RTRS oferece base consistente para esse tipo de monitoramento.

“Medir carbono é registrar números e garantir que os resultados reflitam mudanças reais no manejo”, disse. Segundo Rosado, isso permite diferenciar boas práticas e direcionar incentivos para agricultores que de fato reduzem emissões ou aumentam sequestro de carbono.

Ele reforçou ainda que a integração entre agricultura digital e certificações confiáveis abre caminho para novos modelos de remuneração climática.

Práticas sustentáveis aumentam a confiança de investidores

O sistema financeiro busca cada vez mais projetos com impacto comprovado, e padrões como o RTRS reduzem o risco percebido pelos bancos. Quem trouxe esse recorte foi o head de Sustentabilidade do Rabobank, Taciano Custodio.

Durante a apresentação, Custodio explicou que a rastreabilidade e o monitoramento independente das práticas de sustentabilidade aumentam a confiança dos investidores e facilitam o acesso a linhas de crédito verde. Segundo ele, a clareza das informações técnicas melhora a alocação de recursos para produtores comprometidos com a agenda climática.

“Os financiamentos atrelados a desempenho ambiental têm crescido no Brasil e no mundo, criando oportunidades inéditas para a agricultura responsável”, ressaltou. Diante disso, a certificação RTRS, combinada a metodologias de carbono bem estruturadas, permite transformar benefícios ambientais em valor econômico direto para o produtor.

“Financiar impacto é possível quando existe governança sólida e dados confiáveis”, sublinhou.

Demanda por soja certificada cresce 12% em 2024

Trazendo uma perspectiva de mercadoa senior Manager de Sustentabilidade LATAM da Bunge, Pamela Moreira, destacou que compradores globais buscam cada vez mais garantias de que suas cadeias estejam alinhadas com metas ambientais e climáticas, e padrões como o RTRS são decisivos nesse processo.

“A demanda por soja certificada cresceu 12% no último ano, indicando que o mercado valoriza produtos com rastreabilidade e comprovação de impacto. Essa tendência reforça a necessidade de sistemas capazes de conectar produtores e compradores de forma eficiente”, enfatizou.

A executiva comentou ainda que a plataforma RTRS facilita essa conexão ao unificar oferta e demanda de créditos e produtos certificados, promovendo previsibilidade e transparência. “Modelos bem estruturados de certificação aumentam a competitividade internacional e ajudam empresas a atender compromissos globais de desmatamento zero”, acrescentou. Segundo ela, essa estrutura é fundamental para fortalecer mercados sustentáveis na América Latina.

Certificação e rastreabilidade resultam em transparência

Ao encerrar o painel, o senior Advisor de Credibilidade e Engajamento da Iseal, Joshua Wickerham, explicou que a Iseal define globalmente os princípios de credibilidade para sistemas de sustentabilidade, garantindo que padrões e certificações sejam imparciais, confiáveis e transparentes.

De acordo com ele, a RTRS e membro da comunidade da Iseal desde 2020 e segue essas diretrizes ao integrar engajamento multissetorial, dados mensuráveis, melhoria contínua e gestão rigorosa de alegações. “Esse alinhamento assegura que os impactos ambientais comunicados ao mercado correspondam a resultados reais”, destacou.

Como discurso final, Wickerham ressaltou que a certificação é essencial para garantir confiança, pois envolve auditores profissionais independentes que verificam desempenho e mitigam riscos. “Se ocorrer algum problema no processo, os mecanismos de transparência permitem correções rápidas e eficazes. Sendo assim, a certificação e rastreabilidade são fundamentais para viabilizar pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono aos produtores”, concluiu.

Sobre a RTRS

Fundada em 2006 em Zurique, na Suíça, a Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês) é uma associação internacional sem fins lucrativos que estabelece padrões competitivos e confiáveis e desenvolve soluções para promover a produção, o comércio e o uso de soja sustentável.

Como uma mesa redonda global multissetorial, a RTRS atua por meio da cooperação entre os diversos atores da cadeia de valor da soja — da produção ao consumo — oferecendo uma plataforma global de diálogo multilateral sobre soja responsável.

Como provedora de soluções, a RTRS desenvolve padrões de certificação para a produção de soja e para a cadeia de custódia, além de ferramentas como a Plataforma Online — que permite o rastreamento e o registro das certificações RTRS, dos volumes de produção e do material certificado — e a Calculadora de Pegada de Soja e Milho, entre outras ferramentas.

Mais informações: https://responsiblesoy.org/