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2 de dezembro de 2025 - 7:43h

A Folha Agrícola

Programa de apoio à viticultura completa seis anos e beneficia mais de 400 produtores familiares

O Programa de Revitalização da Viticultura Paranaense (Revitis) foi lançado em novembro de 2019 pelo governo do Paraná com o objetivo de apoiar a cadeia produtiva da cultura da uva nas diferentes regiões do estado. Desde então, 444 produtores familiares de 33 municípios foram beneficiados com mais de R$ 9 milhões em recursos do governo a fundo perdido.

O Revitis é gerido por um grupo gestor coordenado pela Secretaria de estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), com a participação do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Secretaria Estadual do Turismo (Setu), Associação de Viticultores do Paraná (Vinopar) e empresas privadas de Assistência Técnica e Extensão Rural.

O programa é baseado em quatro eixos: incentivo à pesquisa e à produção, reorganização da comercialização, desenvolvimento do turismo e apoio à agroindústria. Cada eixo é formado por diversas ações estratégicas, para proporcionar ao agricultor mais segurança desde o plantio até a comercialização.

O avanço do Revitis tem reforçado o papel do Paraná como referência nacional em produção sustentável e fortalecimento da agricultura familiar. Ao integrar pesquisa, inovação, turismo rural e apoio direto às agroindústrias, o programa tem permitido que pequenos produtores ampliem sua competitividade e se mantenham de forma sólida no mercado. Para o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Marcio Nunes, o impacto do projeto vai além da cadeia da uva e simboliza a vocação do estado para produzir com qualidade e responsabilidade ambiental.

“Com o Revitis, fortalecemos uma cadeia produtiva que une sustentabilidade, inovação e tradição. A viticultura paranaense mostra que é possível produzir com qualidade, preservar o meio ambiente e ampliar oportunidades para as famílias rurais. Esse é mais um exemplo de como o Paraná se consolida como o supermercado do mundo, oferecendo alimentos e bebidas de excelência e com responsabilidade”, ressaltou Marcio Nunes.

PESQUISA E PRODUÇÃO – Para que os produtores pudessem explorar ao máximo as condições ambientais da sua região, os pesquisadores do IDR-Paraná desenvolveram ou adaptaram tecnologias já existentes, estabelecendo sistemas de cultivo adequados a cada situação. Técnicos do setor público e privado foram capacitados para orientar os agricultores na execução dos projetos de acordo com cada realidade. Em função das demandas trazidas pelos produtores, em 2021 foi criada a Rede Paranaense de Pesquisa em Viticultura, que congrega professores, pesquisadores, técnicos e estudantes das instituições federais e estaduais do estado do Paraná que atuam de alguma forma, direta ou indiretamente, com a vitivinicultura. E a partir da rede de pesquisa, foi possível atender demandas como a criação do NAPI Inova-Vitis, Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação financiado pela Fundação Araucária que visa o desenvolvimento de inovações tecnológicas para a produção sustentável de uvas de mesa e para o processamento industrial no estado do Paraná. O NAPI Inova-Vitis é articulado e liderado pelo IDR-Paraná, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade Estadual de Maringá (UEM), e conta com a participação de diversas instituições parceiras do setor privado no país.

Também em 2021, o governo do estado fez o maior investimento no Revitis. Foram disponibilizados cerca de R$ 750 mil a fundo perdido para implantar na unidade do IDR-Paraná em Santa Tereza do Oeste um viveiro de mudas para a multiplicação de material propagativo com qualidade genética e fitossanitária para os produtores implantarem ou renovarem os parreirais. Para a pesquisadora Alessandra Detoni, responsável pelo viveiro, a muda é o alicerce do pomar. “Se eu tenho um material propagativo com qualidade genética e fitossanitária, o meu pomar já está iniciando de uma maneira positiva. Quando eu coloco materiais que eu não sei a procedência, que eu não conheço as plantas matrizes, que não têm nenhum controle ou compro a muda que não tem um processo de certificação, de acompanhamento dos órgãos reguladores, eu já estou garantindo o insucesso da minha atividade e levando problemas para a minha área”, afirma ela.

COMO FUNCIONA O VIVEIRO – A videira é uma espécie propagada vegetativamente a partir de estacas, que são fragmentos obtidos de ramos lenhosos, medindo em média 30 centímetros de comprimento. As estacas podem ser plantadas diretamente no campo, para posterior enxertia, ou submetidos a enxertia de mesa, enraizamento em cultivo protegido e posterior plantio no campo. O viveiro é dividido em três setores: o Laboratório, local destinado ao preparo das estacas, realização da enxertia de mesa, tratamento das estacas com reguladores vegetais e armazenamento a frio; o Cultivo Protegido, que permite o controle de variáveis como temperatura, umidade, radiação solar, vento e pragas, possibilitando maior eficiência e rapidez na produção das mudas; e o Campo de Multiplicação, onde é feito o plantio das plantas matrizes de onde são coletadas as estacas para a formação de novos pomares.

Até o momento, foram entregues 43.075 estacas de porta enxerto e 14.920 gemas de copa para os técnicos que fazem parte do Programa Revitis, sendo de responsabilidade deles a orientação e acompanhamento da produção de mudas junto aos produtores cadastrados no Programa. Aílton Poppi é extensionista do IDR-Paraná em Marialva, conhecida como a capital paranaense da uva fina de mesa. Ele destaca que o produtor tem a chance de renovar praticamente todo o parreiral recebendo, às vezes, apenas 100 estacas. “Quando o produtor recebe esse lote de estacas e faz o plantio e condução corretos, ele pode ter a chance de no próximo ano ter quatro, até cinco vezes mais estacas para aumentar o seu plantio.”. É o caso do produtor Pedro Hanai, que recebeu cem porta-enxertos. “Eu tenho grande incidência de virose, então para mim é uma grande vantagem receber porta-enxerto sem vírus. Sabendo que o material é sem vírus, a gente fica mais seguro para dar continuidade ao trabalho”, afirma o produtor. Além de servirem para o plantio de novas áreas, esses materiais ainda serão utilizados como matriz multiplicadora para os agricultores que produzem suas próprias mudas, como Sandra Vieira, também de Marialva. “Agradeço ao IDR-Paraná, que cedeu os cavalos (porta-enxertos) para a gente poder plantar. Se Deus quiser, no ano que vem vamos fazer o enxerto nesses cavalos e vai ser uma saída excelente, porque as ramas são de excelente qualidade”, destacou.

COMERCIALIZAÇÃO – O Programa Revitis ajudou na reorganização da cadeia produtiva, fortalecendo as iniciativas associativistas, cooperativistas e de integração com as agroindústrias para que os agricultores familiares pudessem ganhar escala de produção, qualidade e serem mais competitivos para atenderem os mercados institucionais e privados. Em junho, com o apoio do REVITIS, a Associação dos Vitivinicultores do Paraná (VINOPAR) realizou em Curitiba a quarta edição do Festival do Vinho Paranaense. O evento, no Museu Oscar Niemeyer, teve palestras e workshops com especialistas do setor. Os cerca de 1600 visitantes tiveram a oportunidade de harmonizar comidas típicas do estado – como barreado, pierogi e as ostras de Cabaraquara – com mais de 80 rótulos, entre vinhos, espumantes e sucos de alta qualidade produzidos por 13 vinícolas no Paraná, incluindo lançamentos e rótulos premiados em concursos no Brasil e no exterior. Os participantes também ganharam de brinde o Mapa do Enoturismo Paranaense.

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO – O Revitis realizou diversas ações visando à promoção do turismo do vinho e da uva, uma opção de desenvolvimento econômico para as comunidades e uma forma de divulgação da cultura local, das tradições, da história e da biodiversidade de cada região. Para incentivar o desenvolvimento do enoturismo, foi estruturada a ROTA UVA &VINHO PARANÁ, uma organização da Seab e do IDR-Paraná por meio do Programa de Turismo Rural, da Vinopar e do projeto de pesquisa TerroirTUR, da UFPR. Segundo Terezinha Busanello Freire, diretora técnica da Seab, o roteiro, tematicamente sinalizado, é apresentado em forma de um mapa ligado não geograficamente, mas pelo conceito do produto. “Ele identifica as propriedades, vinhedos e vinícolas e fornece informações históricas e de interesse dos visitantes. O objetivo é conectar as propriedades, criando um produto que permita posicionar o Paraná como um destino de enoturismo”. Atualmente a Rota possui 22 propriedades cadastradas, entre vinícolas e propriedades com colha e pague, cafés e piquenique nos parreirais, vindima, entre outros atrativos. Entretanto, a qualquer tempo novos vitivinicultores podem se cadastrar pelo link (https://forms.gle/KXM93D29yJWi62MW8), para posterior análise e validação da propriedade que atender aos critérios de adesão. A inauguração da Rota está prevista para meados de dezembro deste ano.

APOIO À AGROINDÚSTRIA – Além dos recursos destinados à compra de insumos e materiais para que grupos de produtores familiares pudessem instalar unidades de beneficiamento da fruta, os técnicos do Revitis têm trabalhado junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Serviço Social da Indústria (Sesi) e Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para apoiar o combate ao contrabando, à comercialização ilegal e à adulteração de bebidas.

ÁREA PLANTADA – Com o trabalho desenvolvido pelo Programa Revitis e por outras iniciativas, a área plantada com videiras no Estado tem se mantido estável. Uma grande dificuldade para a ampliação da cultura é a convivência com herbicidas hormonais utilizados para pastagens e grãos, como por exemplo, o 2-4D. “Como a videira é muito sensível a esse tipo de herbicida, o contato com pequenas quantidades do produto já é suficiente para comprometer a safra inteira de uma propriedade afetada com a deriva de lavouras do entorno”, explica Ronei Andretta, coordenador estadual do Revitis. Neste sentido, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) está desenvolvendo uma pesquisa em parceria com universidades estaduais para elaborar uma nova legislação estadual sobre agrotóxicos que ajude a mitigar esse problema.

De acordo com Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, atualmente o Paraná é o quinto produtor nacional, responsável por 2,2% da produção brasileira. Na última safra foram colhidas 45.886 toneladas, em 3.242 hectares de área plantada. São 1.790 hectares cultivados com uva de mesa e 1.452 hectares com uva rústica, para fabricação de sucos e vinhos.

INDICAÇÃO GEOGRÁFICA – Marialva, na região noroeste, é conhecida como a capital da uva fina do Paraná. O município produz 37% do volume total e tem 25% da área plantada no estado. São 450 hectares cultivados com as variedades Brasil, Benitaka, Rubi, Itália, Núbia e Vitória. O perfil do solo, as condições climáticas e as técnicas de plantio adotadas na região possibilitam produção perene durante todo o ano. Essas características foram essenciais para garantir a Indicação Geográfica da uva fina de mesa de Marialva. A detentora do registro é a Associação Norte Noroeste Paranaense dos Fruticultores (Anfrut), que representa cooperativas e produtores de uvas de mesa da região.

Entre as regras de produção a serem seguidas, estão o correto armazenamento, a aplicação controlada dos defensivos agrícolas, o descarte correto de embalagens, o uso de equipamentos de proteção individual, além da ausência de mão de obra infantil e de pessoas em regime análogo à escravidão. No caso da própria uva, as bagas devem ser uniformes e ter aparência opaca, não podem possuir nenhum tipo de resíduo de defensivos ou cores diferentes da característica da fruta.

Os chamados produtos de origem são aqueles com característica diferenciada por serem produzidos em uma região ou território específicos.

RECORDISTA EM I.G. – Em 2025, o Paraná se tornou o estado brasileiro com o maior número de indicações geográficas (IGs) do Brasil. Além da uva de Marialva, o Paraná já tem mais vinte e um produtos certificados pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI): aguardente de cana e cachaça de Morretes, goiaba de Carlópolis, uvas de Marialva, barreado do Litoral, bala de banana de Antonina, melado de Capanema, queijo da Colônia Witmarsum, café do Norte Pioneiro, mel da região Oeste, mel de Ortigueira, erva-mate de São Mateus do Sul, morango do Norte Pioneiro, camomila de Mandirituba e os vinhos de Bituruna. Só neste ano, foram reconhecidos oito produtos: a ponkan de Cerro Azul, as broas de centeio de Curitiba, a cracóvia de Prudentópolis, a carne de onça de Curitiba, o café de Mandaguari, o urucum de Paranacity, o queijo colonial do Sudoeste do Paraná e as ostras de Cabaraquara.