Análise do Prof. Dr. João Alfredo Nyegray, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUCPR
A movimentação de três destróieres da Marinha dos Estados Unidos rumo à costa da Venezuela marca uma nova fase de tensão na América Latina. Segundo a Casa Branca, a operação tem como objetivo combater cartéis de drogas classificados por Washington como “organizações terroristas”. No entanto, a retórica do presidente Donald Trump e da sua porta-voz Karoline Leavitt, que declarou que os EUA usarão “toda a força” contra Nicolás Maduro, sugere que o episódio vai além da questão do narcotráfico.
O professor João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em Negócios Internacionais e Geopolítica, aponta que o movimento de Washington deve ser entendido em duas camadas: “No discurso, trata-se de uma ação contra o narcotráfico. Mas, na prática, é também uma demonstração de força em uma região considerada estratégica, especialmente diante do alinhamento da Venezuela com Rússia, China e Irã. A pressão sobre Maduro insere-se em uma lógica maior da política externa americana de projetar poder e dissuadir adversários”.
Há também um componente político relevante: os EUA anunciaram uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura ou condenação de Nicolás Maduro, valor superior ao oferecido na época pela localização de Osama Bin Laden. “Essa cifra não é apenas simbólica, mas revela a prioridade atribuída por Washington ao enfraquecimento do regime venezuelano”, destaca João Alfredo.
A escalada preocupa países da América do Sul, já que a Venezuela responde com a mobilização de mais de 4,5 milhões de milicianos e acusa os EUA de ameaçarem a estabilidade regional. Para Nyegray, a tensão coloca a América Latina novamente no radar das disputas geopolíticas globais: “Estamos diante de um cenário que pode trazer instabilidade às cadeias de comércio, fluxos energéticos e até mesmo comprometer a integração regional. É um ponto de atenção não só para Caracas e Washington, mas para todos os países vizinhos”.
Imagem ilustrativa gerada pela IA