fbpx
loader image

16 de março de 2025 - 0:08h

A Folha Agrícola

Agro: análise de mercado da semana

Comentários de Antônio da Luz, economista-chefe da Ecoagro sobre semana de mercado e análise do BB no agro

A última semana de fevereiro promete ser intensa para os mercados, com eventos econômicos e políticos relevantes. As eleições na Alemanha podem gerar mudanças significativas, pois o partido do atual chanceler aparece em terceiro lugar nas pesquisas, o que pode impactar a economia alemã e a zona do euro. Além disso, serão divulgados indicadores essenciais, como a inflação ao consumidor na Europa e a receita tributária do Brasil. O índice de confiança do consumidor também será um dado crucial, já que o consumo das famílias representa dois terços do PIB pelo critério de despesa.

O Boletim Focus pode indicar projeções mais altas de inflação, refletindo a recente alta do IGP-10, enquanto o IPCA-15 deve surpreender com uma alta expressiva, possivelmente acima de 1%. Isso pode aumentar a volatilidade do mercado e pressionar o Banco Central e o governo a ajustarem suas contas. Nos Estados Unidos, o PCE, indicador de inflação amplamente monitorado pelo FED, será divulgado e pode influenciar as expectativas sobre a política monetária americana.

Outros dados relevantes incluem a atividade econômica da Argentina e os estoques de petróleo, especialmente diante das recentes altas no preço do barril e seus impactos no custo dos combustíveis no Brasil. A questão tributária estadual sobre combustíveis também merece atenção, pois aumentos recentes, determinados sem necessidade de aprovação legislativa, têm pressionado os preços finais ao consumidor. Com o petróleo em alta, novas elevações de preços podem ser inevitáveis, impactando a inflação e os custos do setor produtivo.

Falas de dirigentes do FED ao longo da semana devem movimentar os mercados, enquanto os dados do CAGED, referentes a janeiro, trarão um panorama sobre a geração de empregos no Brasil. Com a taxa de desemprego em patamares historicamente baixos, os salários reais têm subido acima da inflação, algo que o Banco Central já destacou como preocupação. O IGP-M, que será divulgado na quinta-feira, trará novas leituras sobre a inflação no atacado, enquanto a taxa de desemprego medida pela PNAD e os dados de dívida bruta e líquida do governo em relação ao PIB podem influenciar as expectativas fiscais na sexta-feira.

O Banco do Brasil, maior operador de crédito rural do país, divulgou recentemente seus resultados financeiros de 2024, trazendo aprendizados valiosos sobre risco e crédito no agro. Apesar das preocupações do mercado, o agronegócio continua dependente de financiamento e segue como um pilar essencial da economia. Muitas ações do banco foram vendidas recentemente, o que pode representar uma oportunidade para investidores, considerando que, frequentemente, o mercado reage a dados isolados sem avaliar o contexto mais amplo.

O provisionamento para crédito de liquidação duvidosa (PCLD) subiu para R$ 11,6 bilhões, quase o triplo da média histórica entre 2010 e 2024, que foi de R$ 4,3 bilhões. No entanto, a carteira de crédito do banco cresceu mais de 633% no mesmo período. Assim, o percentual médio histórico do PCLD sobre a carteira, de 3,5%, permanece inalterado, indicando que não há um problema estrutural.

Outro ponto de preocupação recorrente é a suposta exposição excessiva do banco a riscos políticos e subsídios. No entanto, dos R$ 343,9 bilhões da carteira classificada de agronegócio, apenas 24% são recursos controlados pelo governo, enquanto 76% operam a taxas de mercado. Além disso, a carteira de mercado de capitais, que inclui CPRs e certificados de recebíveis, soma R$ 40 bilhões, enquanto a carteira PJ do agronegócio representa R$ 13,5 bilhões, com um PCLD de apenas 1%. No quarto trimestre de 2024, a carteira do agro cresceu 13,1%, superando os segmentos de pessoa física (4,2%) e jurídica (6%). No acumulado do ano, o agronegócio foi o segmento de maior crescimento dentro do banco, com alta de 8,9%.

Essa análise reforça que o Banco do Brasil gerenciou riscos e aproveitou oportunidades no setor. Apesar do aumento absoluto do PCLD, o índice relativo permaneceu alinhado à média histórica. Portanto, é fundamental interpretar os dados no contexto adequado e evitar conclusões precipitadas.

Os últimos indicadores econômicos também apontam tendências relevantes. O IBC-Br veio abaixo do esperado, com queda de 0,73%, sugerindo possível desaceleração. Já o IGP-10 subiu 0,87%, indicando alta no IGP-M. O fluxo cambial segue negativo, com saída de US$ 9,2 bilhões até 14 de fevereiro, contrastando com a entrada de US$ 5,2 bilhões no mesmo período do ano passado.

Nos Estados Unidos, os pedidos de seguro-desemprego seguem controlados, enquanto o índice de manufatura do Fed da Filadélfia saltou para 40, impulsionado por medidas protecionistas. No entanto, isso pressiona a inflação, conforme mostram as expectativas da Universidade de Michigan, que subiram de 3,3% para 4,3%. Esse aumento reduz a probabilidade de cortes na taxa de juros pelo Fed no curto prazo.

Diante desse cenário, é essencial manter uma visão ampla e fundamentada em dados concretos, evitando reações precipitadas a eventos isolados. O Banco do Brasil demonstrou resiliência e crescimento no agro, enquanto o ambiente macroeconômico exige atenção para possíveis ajustes na política monetária global.